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Objetos cortantes - Gillian Flynn

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— Você me lembra minha mãe, Joya. Fria e distante, e muito, muito presunçosa. Minha mãe<br />

também nunca me amou. E se vocês não me amam, eu também não as amo.<br />

Uma onda de fúria correu por mim.<br />

— Eu nunca lhe disse que não a amava, isso é simplesmente ridículo. Ridículo, porra. Foi<br />

você quem nunca gostou de mim, nem quando criança. Nunca senti de você nada além de<br />

frieza, então não ouse virar isso contra mim.<br />

Comecei a esfregar a palma da mão com força na beirada da escada. Minha mãe deu um<br />

meio sorriso para o gesto e eu parei.<br />

— Você sempre foi muito voluntariosa, nunca foi doce. Lembro-me de quando tinha seis ou<br />

sete anos. Eu queria fazer cachinhos em seus cabelos para a foto da escola. Em vez disso,<br />

você o cortou todo com minha tesoura de costura.<br />

Não me lembrava de ter feito isso. Lembrava de ouvir que Ann tinha feito isso.<br />

— Acho que não, mamãe.<br />

— Teimosa. Como aquelas garotas. Tentei me aproximar daquelas garotas, as garotas<br />

mortas.<br />

— O que quer dizer com se aproximar delas?<br />

— Elas me lembravam você, correndo selvagemente pela cidade. Como animaizinhos<br />

lindos. Pensei que se pudesse me aproximar delas, entenderia você melhor. Se pudesse gostar<br />

delas, talvez pudesse gostar de você. Mas não pude.<br />

— Não, não espero isso.<br />

O relógio de carrilhão bateu onze horas. Imagino quantas vezes minha mãe tinha ouvido<br />

aquilo enquanto crescia naquela casa.<br />

— Quando você estava dentro de mim, quando eu era uma menina, tão mais jovem do que<br />

você é hoje, pensei que você me salvaria. Pensei que iria me amar. E então minha mãe iria me<br />

amar. Foi uma piada.<br />

A voz da minha mãe se elevou, alta e pura, como uma echarpe vermelha em uma<br />

tempestade.<br />

— Eu era um bebê.<br />

— Mesmo desde o começo você desobedecia, não comia. Como se estivesse me punindo<br />

por ter nascido. Fazia com que eu parecesse uma idiota. Uma criança.<br />

— Você era uma criança.<br />

— E agora você volta e eu só consigo pensar: “Por que Marian e não ela?”<br />

A fúria imediatamente se transformou em desespero. Meus dedos encontraram uma farpa de<br />

madeira na tábua. Eu a enfiei sob a unha. Não iria chorar por aquela mulher.<br />

— De qualquer forma, não estou muito contente de estar aqui, mamãe, se isso a faz sentir<br />

melhor.<br />

— Você é tão odiosa.<br />

— Aprendi com você.

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