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Objetos cortantes - Gillian Flynn

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Só a última frase era totalmente verdadeira, e não me dei conta disso até as palavras<br />

saírem de mim. Richard era um cara inteligente, um grande policial, extremamente ambicioso,<br />

em seu primeiro grande caso com toda uma comunidade ultrajada clamando por uma prisão, e<br />

ainda não tinha uma pista. Caso tivesse mais que um desejo contra John, o teria prendido dias<br />

antes.<br />

— Camille, apesar do que você pensa, não sabe tudo sobre esta investigação.<br />

— Richard, acredite em mim, nunca achei que sabia. Nunca me senti nada além de a mais<br />

inútil das forasteiras. Você conseguiu me comer e ainda assim permanecer impermeável. Não<br />

consegui nenhum vazamento com você.<br />

— Ah, então ainda está puta com isso. Achei que você era uma menina crescida.<br />

Silêncio. Um sibilo de limão. Eu podia ouvir vagamente o grande relógio de prata no pulso<br />

de Richard tiquetaqueando.<br />

— Deixe-me mostrar a você como eu posso ter espírito esportivo — falei.<br />

Eu estava novamente no piloto automático, como nos velhos tempos: desesperada para me<br />

submeter a ele, fazer com que se sentisse melhor, fazer com que gostasse de mim de novo. Por<br />

alguns minutos na noite anterior eu me sentira muito confortável, e o aparecimento de Richard<br />

do lado de fora da porta do motel destruíra o que restava daquela calma. Eu a queria de volta.<br />

Ajoelhei e comecei a abrir o zíper da sua calça. Por um segundo ele colocou a mão atrás da<br />

minha cabeça. Depois, em vez disso, me agarrou grosseiramente pelo ombro.<br />

— Meu Deus, Camille, o que está fazendo?<br />

Percebeu como o aperto era forte e o aliviou, então me colocou de pé.<br />

— Só quero ajeitar as coisas entre nós — disse, brincando com um botão da sua camisa e<br />

me recusando a olhar nos olhos dele.<br />

— Não é assim, Camille — falou, e me beijou nos lábios de forma quase casta. — Precisa<br />

saber disso antes de avançarmos. Simplesmente precisa saber disso, ponto final.<br />

Depois pediu que eu saísse.<br />

* * *<br />

Tentei dormir algumas horas no banco de trás do meu carro. O equivalente a ler uma placa<br />

entre os vagões de um trem passando. Acordei viscosa e irritada. Comprei escova e pasta de<br />

dentes na loja de conveniência, juntamente com o hidratante e o spray de cabelos mais<br />

perfumados que consegui encontrar. Escovei os dentes na pia de um posto de gasolina, depois<br />

esfreguei o hidratante nas axilas e entre as pernas, joguei spray nos cabelos. O cheiro<br />

resultante foi suor e sexo sob uma nuvem de morango e aloe vera.<br />

Eu não podia encarar minha mãe em casa, e loucamente pensei em, no lugar disso,<br />

trabalhar. (Como se ainda fosse escrever aquela matéria. Como se tudo não estivesse prestes a<br />

ir para o inferno.) Tendo ainda fresca na memória a menção que Geri Shilt fizera a Katie<br />

Lacey, decidi voltar a ela. Era mãe voluntária na escola primária, das turmas de Natalie e

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