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Objetos cortantes - Gillian Flynn

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— Há formas melhores de lidar com tédio e claustrofobia que ferindo — falei. — Você é<br />

uma garota inteligente, sabe disso.<br />

Eu me dei conta de que os dedos dela estavam dentro das mangas de minha camisa, tocando<br />

as elevações de minhas cicatrizes. Eu não a detive.<br />

— Você se corta, Amma?<br />

— Eu me machuco — guinchou, e saiu para a rua, girando de modo exuberante, a cabeça<br />

para trás, braços esticados como um cisne. — Adoro isso! — berrou.<br />

O eco percorreu a rua, com a casa da minha mãe mantendo guarda na esquina.<br />

Amma girou até cair no chão, um dos braceletes de prata abrindo e rolando rua abaixo<br />

ebriamente.<br />

Quis conversar com ela sobre isso, ser a adulta, mas o ecstasy me arrastou de novo e, em<br />

vez disso, a levantei do chão (rindo, seu cotovelo cortado e sangrando), e giramos uma à outra<br />

a caminho da casa da nossa mãe. O rosto dela estava dividido em dois com o sorriso, os<br />

dentes molhados e compridos, e me dei conta de como eles poderiam ser fascinantes para um<br />

assassino. Blocos quadrados de osso reluzente, os da frente como mosaicos que você poderia<br />

colar em uma mesa.<br />

— Estou muito feliz com você — disse Amma rindo, o hálito quente e docemente alcoólico<br />

no meu rosto. — Você é como minha alma gêmea.<br />

— Você é como minha irmã — falei.<br />

Blasfêmia? Não me importava.<br />

Estávamos girando tão rápido que minhas bochechas balançavam, fazendo cócegas. Eu ria<br />

como criança. Nunca fui tão feliz quanto agora, pensei. As luzes da rua eram quase rosadas,<br />

e os cabelos compridos de Amma batiam em meus ombros, as maçãs do rosto dela se<br />

projetando como colheradas de manteiga em sua pele bronzeada. Estendi a mão para tocar em<br />

um, soltando minha mão da mão dela, e o rompimento do círculo nos fez cair com força no<br />

chão.<br />

Senti o osso do quadril bater no meio-fio — pop! —, sangue jorrando, caindo na minha<br />

perna. Bolhas vermelhas começaram a brotar no peito de Amma, que deslizara sobre o piso.<br />

Ela olhou para baixo, olhou para mim, brilhantes olhos azuis de husky siberiano, passou os<br />

dedos pela teia sangrenta no peito, deu um longo guincho, depois pousou a cabeça no meu<br />

colo, rindo.<br />

Passou um dedo pelo peito, equilibrando um gordo botão de sangue na ponta e, antes que eu<br />

conseguisse impedir, esfregou-o em meus lábios. Pude sentir o gosto, como metal melado. Ela<br />

ergueu os olhos para mim, acariciou meu rosto e permiti.<br />

— Sei que você acha que Adora gosta mais de mim, mas isso não é verdade — disse ela.<br />

Como se seguindo a deixa, a luz da varanda de nossa casa, no alto da colina, se acendeu.<br />

— Quer dormir no meu quarto? — ofereceu Amma, um pouco mais baixo.<br />

Eu nos imaginei na cama dela, sob suas cobertas de bolinhas, sussurrando segredos,<br />

adormecendo enroscadas uma na outra, então me dei conta de que imaginava a mim e Marian.

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