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Objetos cortantes - Gillian Flynn

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— Ei, achei que isto seria apenas um perfil de violência — falei, minha voz abafada pelo<br />

latejar nos meus ouvidos. — Não tenho nenhum detalhe. Foi uma mulher que não reconheci e<br />

que não sei com quem estava. Só supus que fosse de fora da cidade.<br />

— Achei que repórteres não supusessem — disse ele, novamente sorrindo.<br />

— Eu não era repórter na época, só uma garotinha…<br />

— Camille, eu estou pressionando você, desculpe — falou, tirando o garfo dos meus<br />

dedos, colocando-o deliberadamente do lado dele da mesa, pegando minha mão e beijando-a.<br />

Pude ver a palavra batom se arrastando para fora da minha manga direita. — Desculpe, não<br />

quis te torturar. Estava bancando o policial mau.<br />

— Acho difícil ver você como policial mau.<br />

Ele sorriu.<br />

— Verdade, é forçação. Culpa dessa minha aparência jovem!<br />

Demos um gole em nossas bebidas. Ele girou o saleiro e disse:<br />

— Posso fazer mais perguntas?<br />

Confirmei com um gesto de cabeça.<br />

— Qual o próximo incidente de que consegue se lembrar?<br />

O cheiro sufocante da salada de atum em meu prato estava revirando meu estômago.<br />

Procurei Kathy para conseguir outra cerveja.<br />

— Quinta série. Dois garotos encurralaram uma garota no recreio e a obrigaram a enfiar<br />

uma vara dentro dela.<br />

— Contra sua vontade? Eles a forçaram?<br />

— Ahnn… Um pouco, acho. Eles eram os malvados, mandaram que ela fizesse e ela fez.<br />

— E você viu isso ou ouviu falar?<br />

— Eles mandaram alguns de nós assistir. Quando a professora descobriu, tivemos que nos<br />

desculpar.<br />

— Com a garota?<br />

— Não, a garota também teve que se desculpar com a turma. “Damas devem controlar seus<br />

corpos, porque os meninos não conseguem controlá-los.”<br />

— Jesus. Algumas vezes esquecemos como as coisas eram diferentes, e não faz muitos<br />

anos. Quanta… desinformação — disse Richard, anotando em seu bloco, deslizando um pouco<br />

de gelatina pela garganta. — Do que mais se lembra?<br />

— Uma vez, no oitavo ano, uma garota ficou bêbada em uma festa do ensino médio e quatro<br />

ou cinco caras do time de futebol fizeram sexo com ela, meio que passaram de um para o<br />

outro. Isso conta?<br />

— Camille. Claro que conta. Você sabe disso, certo?<br />

— Bem, eu simplesmente não sabia se isso contava como violência explícita ou…<br />

— É, eu consideraria um bando de vagabundos estuprando uma menina de treze anos como<br />

violência explícita, certamente consideraria.<br />

— Como está tudo? — perguntou Kathy, de repente sorrindo para nós.

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