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Ou em Chicago.<br />
— Eles vão ler. Você vai chamar atenção com isso, Foquinha. Seu material está quase bom.<br />
Force mais. Vá conversar com alguns dos seus velhos amigos. Eles podem ser mais abertos.<br />
Além disso, é bom para a matéria; aquela série sobre a inundação no Texas que ganhou o<br />
Pulitzer tinha uma matéria só sobre o que o cara pensava sobre voltar para casa durante uma<br />
tragédia. Grande leitura. E um rosto amigo, algumas cervejas poderiam lhe fazer bem. Parece<br />
que você já tomou algumas hoje.<br />
— Algumas.<br />
— Está vendo… que é uma situação ruim para você? Em relação à recuperação?<br />
Ouvi um isqueiro sendo aceso, uma cadeira de cozinha raspando o linóleo, um grunhido<br />
enquanto Curry se sentava.<br />
— Ah, não é nada com que você deva se preocupar.<br />
— Claro que é. Não se faça de mártir, Foquinha. Não vou puni-la se precisar vir embora.<br />
Cuide de si mesma. Achei que estar em casa poderia lhe fazer bem, mas… Às vezes me<br />
esqueço de que nem sempre os pais são… bons para os filhos.<br />
— Sempre que estou aqui… — Parei, tentando organizar as ideias. — Sempre me sinto<br />
como se fosse uma pessoa ruim quando estou aqui.<br />
Então comecei a chorar, soluçando em silêncio enquanto Curry gaguejava do outro lado.<br />
Podia imaginá-lo entrando em pânico, chamando Eileen para lidar com aquela garota<br />
chorando. Mas não.<br />
— Ahhh, Camille — sussurrou. — Você é uma das pessoas mais decentes que eu conheço.<br />
E não há muitas pessoas decentes neste mundo, sabia? Com meus pais mortos, são<br />
basicamente você e Eileen.<br />
— Eu não sou decente.<br />
A ponta da minha caneta estava rabiscando palavras fundas e arranhadas em minha coxa.<br />
Errada, mulher, dentes.<br />
— Você é, Camille. Sei como você trata as pessoas, mesmo os lixos mais inúteis em que<br />
consigo pensar. Você dá a eles alguma… dignidade. Compreensão. Por que acha que eu<br />
mantenho você? Não é por ser uma grande repórter.<br />
Silêncio e lágrimas gordas do meu lado. Errada, mulher, dentes.<br />
— Isso não foi engraçado? Deveria ter sido.<br />
— Não.<br />
— Meu avô fazia vaudevile. Mas acho que não herdei esse gene.<br />
— Sério?<br />
— É, assim que desembarcou em Nova York do navio da Irlanda. Era um cara hilário,<br />
tocava quatro instrumentos.<br />
Barulho de isqueiro de novo. Puxei as cobertas leves sobre mim e fechei os olhos,<br />
escutando a história de Curry.