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Objetos cortantes - Gillian Flynn

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Dez minutos para a cerimônia, e uma fila se formava para entrar na igreja. Observei os<br />

bancos já ocupados. Havia algo errado. Nem uma só criança estava ali. Nada de meninos de<br />

calças escuras rolando caminhões sobre as pernas das mães, nada de meninas embalando<br />

bonecas de pano. Nenhum rosto mais jovem que quinze anos. Eu não sabia se era por respeito<br />

aos pais ou uma defesa determinada pelo medo. Um instinto de impedir que o filho de alguém<br />

fosse escolhido como futura presa. Imaginei centenas de filhos e filhas de Wind Gap<br />

escondidos em quartos escuros, chupando as costas das mãos enquanto assistiam à TV e<br />

permaneciam não identificados.<br />

Sem ter que cuidar de crianças, os fiéis pareciam estáticos, como perfis de papelão<br />

guardando o lugar de pessoas de verdade. Pude ver Bob Nash ao fundo, de terno escuro. Nada<br />

de esposa. Ele anuiu para mim, depois franziu a testa.<br />

* * *<br />

Os tubos do órgão exalaram as notas abafadas de “Be Not Afraid”, e a família de Natalie<br />

Keene, até então chorando, se abraçando e gemendo perto da porta como um enorme coração<br />

com problemas, entrou toda junta. Apenas dois homens foram necessários para carregar o<br />

caixão branco brilhante. Mais um e eles ficariam se esbarrando.<br />

O pai e a mãe de Natalie abriram a procissão. Ela era quase dez centímetros mais alta que<br />

ele, uma mulher grande e calorosa com cabelos claros presos com uma fita. Tinha um rosto<br />

receptivo, do tipo que levaria estranhos a pedir informações ou perguntar as horas. O Sr.<br />

Keene era pequeno e magro, com um rosto redondo de criança tornado mais redondo por<br />

óculos de armação metálica que pareciam duas rodas de bicicleta douradas. Atrás deles<br />

caminhava um rapaz bonito de dezoito ou dezenove anos, a cabeça morena caída sobre o<br />

peito, soluçando. O irmão de Natalie, uma mulher sussurrou para mim.<br />

Lágrimas corriam pelas faces da minha mãe e pingavam ruidosamente na bolsa de couro<br />

que ela tinha no colo. A mulher ao lado dava tapinhas em sua mão. Tirei o bloco do bolso do<br />

casaco e comecei a rabiscar anotações de um lado até minha mãe bater em minha mão e<br />

sibilar:<br />

— Você está sendo desrespeitosa e constrangedora. Pare, ou farei com que saia.<br />

Parei de escrever, mas não guardei o bloco, me sentindo ousadamente desafiadora. Mas<br />

ainda enrubescendo.<br />

A procissão passou pela gente. O caixão parecia ridiculamente pequeno. Imaginei Natalie<br />

dentro e pude ver suas pernas de novo — pelugem, joelhos ossudos, o band-aid. Senti uma<br />

pontada forte, como um ponto datilografado no fim de uma frase.<br />

Enquanto o padre murmurava as preces iniciais, em suas melhores vestes, e nos<br />

levantávamos, sentávamos e levantávamos novamente, missais foram distribuídos. Na frente, a<br />

Virgem Maria projetava seu brilhante coração vermelho sobre o menino Jesus. No verso<br />

estava impresso:

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