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Elas por elas 2020

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

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de pessoas de religiões diferentes.

Ana Lúcia, da Pastoral Carcerária

da Arquidiocese de Belo Horizonte,

visita semanalmente as mulheres

em situação de cárcere na capital

mineira e, pontualmente, na região

metropolitana. “Não podemos

nem queremos julgar ninguém.

Nós fazemos a visita, priorizando

a escuta e o acolhimento, refletimos

sobre a palavra de Deus e, por

meio desta, muitas renovam suas

esperanças”, conta. A Pastoral trabalha

na dimensão de um mundo

sem cárcere, com as pessoas livres,

com autonomia, dignidade e com

garantia dos direitos. Não é pelo

fato de a mulher estar presa que ela

pode ser vista e tratada com desrespeito,

discriminação, perdendo

sua identidade, sua dignidade. O

agente pastoral recebe formação,

informação e vários materiais para

ajudar na sua atuação no cárcere e

também com a família da mulher

presa. Buscamos estar junto em

oração e também ajudando-as em

outras necessidades. É um momento

de reflexão sobre outras formas

de viver com mais respeito a elas

mesmas. Muitas vezes são levadas

por este mundo consumista, onde

o Deus da atualidade tem sido o dinheiro

e, assim, vão se enveredando

por caminhos não felizes”, conta.

Segundo Ana Lúcia, algumas

mulheres se sentem tão tocadas

com a visita que falam que, quando

sairem da prisão, vão fazer a

formação para voltar ao presídio

como agentes de pastoral carcerária,

ajudando outras mulheres. Ela

explica que muitas não têm visita de

familiares e, por isso, a ajuda passa

também pelo aspecto material. “A

mulher presa é vulnerável e invisível,

suas necessidades básicas não

são atendidas e as mais profundas

são ignoradas. O papel da Pastoral

Carcerária é dar visibilidade a essa

questão e, mais que isso, lutar pela

transformação dessa triste realidade,

pelo desencarceramento das

mulheres”, acrescenta.

A presidenta do Grupo de Amigos

e Familiares de Pessoas em

Privação de Liberdade (GAFPPL)

de Minas Gerais, Maria Teresa dos

Santos, ressalta que, no presídio,

as necessidades especiais das mulheres

não são levadas em conta.

“O Estado dá absorvente, mas não

o suficiente para quem tem fluxo

menstrual mais intenso e não dá

sabonete, shampoo, calcinhas nem

sutiãs. A família precisa completar

e poucas recebem visitas de familiares

ou de seus companheiros.

Muitas vezes são abandonadas

A mulher presa

é vulnerável e

invisível, suas

necessidades

básicas não são

atendidas e as

mais profundas

são ignoradas”

por todos e discriminadas também

dentro do sistema, porque para a

nossa sociedade lugar de mulher

é dentro de casa, cuidando da família.

É ‘inadmissível’ uma mulher

infringir a lei. Assim elas sofrem

dobrado”, afirma.

Por tudo isso, Maria Teresa

defende a oferta de várias atividades

no presídio. “Elas ajudam a

presa se sentir pessoa novamente,

porque lá dentro todo mundo é

um número de cadastro. O governo

precisa incentivar voluntários

a darem cursos profissionalizantes,

com todo esquema de segurança

e material necessário, sem a

burocracia que hoje existe e que

já fez muito voluntário desistir.

No caso das mulheres, precisam

de cursos na área da construção

civil, pois já vi fazerem curso de

cabeleireira e depois não conseguirem

emprego, porque muitos

donos de salão acreditam que

suas clientes não terão confiança

em deixar suas bolsas enquanto

lavam um cabelo. Elas sempre são

vistas com discriminação, independente

do crime que cometeram. A

maioria delas é presa por tráfico

de drogas e, muitas vezes, porque

o companheiro já foi preso e elas se

viram obrigadas a assumir o papel

deles. Ou foram presas por pequenos

furtos e, na maioria das vezes,

para garantir a própria sobrevivência.

Se tiverem curso de pedreira,

acabamento, eletricista, soldadora,

as chances de conseguirem emprego

na construção civil é bem maior,

como acontece com os homens. E

muitas empresas preferem contratar

mulheres para acabamento, por

Revista Elas por Elas - março 2020

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