Elas por elas 2020
A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.
A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.
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você acaba tendo uma defasagem
na produção acadêmica, que precisa
ser contabilizada, para que essas
mulheres não sejam preteridas
em seleções de docentes”, aponta a
estudante de mestrado.
De olho nessa questão, a Universidade
Federal Fluminense (UFF)
aprovou, em fevereiro de 2019,
uma medida pioneira no país: as
docentes que estiveram em licença-maternidade
nos últimos dois
anos ganharam um bônus de cinco
pontos na avaliação do currículo,
para concorrerem em um edital
interno de bolsas de iniciação científica.
A medida, adotada após consulta
a professoras que se sentiram
prejudicadas em editais anteriores,
era uma antiga demanda do grupo
de trabalho da universidade Mulheres
na Ciência, coordenado pela
pesquisadora Letícia Oliveira. Segundo
ela, há estudos que apontam
que a maternidade promove uma
queda na produtividade das cientistas
por, no mínimo, quatro anos.
“É um critério interessante, porque
é uma forma de você manter um
equilíbrio”, defende Flávia Calé.
Como esse mesmo objetivo, foi
sancionada no final de 2017 a lei
13.536. De autoria da deputada federal
Alice Portugal (PCdoB/BA), a
legislação garantiu às pós-graduandas
o direito de suspender as atividades
acadêmicas por até 120 dias,
no caso de maternidade ou adoção,
porém mantendo o auxílio da bolsa
de estudos. Recentemente, esse
debate sobre maternidade e trabalho
científico ganhou mais um capítulo.
Em agosto de 2019, o Observatório
Cajuína, grupo que reúne
pesquisadoras da área da Psicologia,
publicou uma carta aberta à comunidade
científica, por meio da
qual abordam a questão da participação
de mães em congressos. No
documento, elas reivindicam algumas
estruturas básicas para garantir
a presença delas nesses eventos,
como a aceitação de bebês e crianças
em sala de aula, a garantia de
livre amamentação em todos os locais,
e a criação de um espaço kids,
com monitores.
“Existem mães solo, existem
mães sem rede de apoio, existem
crianças que não conseguem ficar
com outras pessoas por muito
tempo pelos mais variados motivos.
Portanto, excluir crianças significa
excluir mulheres! Então,
do que precisamos para nos sentirmos
incluídas nos congressos da
área? A ação mais simples que um
“
Existem mães solo,
existem mães sem
rede de apoio, existem
crianças que não
conseguem ficar com
outras pessoas por
muito tempo pelos
mais variados motivos.
Portanto, excluir
crianças significa
excluir mulheres”
evento pode realizar é divulgar que
as crianças serão bem recebidas e
garantir que todo o suporte moral
será dado, protegendo institucionalmente
essas mulheres dos
olhares e ações, tão reforçadas
na nossa cultura, de exclusão. Por
exemplo, que seus monitores, palestrantes
e participantes estejam avisados
que crianças poderão estar
presentes e isso não será um problema.
Uma vez que isso aconteça,
precisamos também de tolerância
à imprevisibilidade que a presença
de uma criança gera. Precisamos
de tolerância para acolher
bebês que choram, para sairmos no
meio de uma palestra e podermos
voltar quando a criança se acalmar.
Precisamos de tolerância e acolhimento,
e não de mais julgamentos”,
diz o texto do manifesto, elaborado
após uma das integrantes do grupo,
a psicóloga Tauane Paula Genm,
ter a presença do seu pequeno
Emanuel recusada em um evento
de temática feminista.
Na avaliação da professora Karla
Torres, os desafios das mulheres
na ciência precisam ser enfrentados
desde a infância, por toda a sociedade.
“Precisamos começar a
eliminar preconceitos de gênero
desde a base. Na ciência não é diferente.
Deixemos nossas meninas
e mulheres serem curiosas, investigarem,
proporem soluções, errarem
sem serem julgadas por seu gênero,
e busquemos dar voz às suas
ideias. Precisamos, enquanto sociedade,
parar de tentar desmotivá-
-las a fazer qualquer coisa que não
seja ligada ao cuidado doméstico”,
afirma a pesquisadora.
Revista Elas por Elas - março 2020
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