Elas por elas 2020
A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.
A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.
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homens e as mulheres se inspiram
nas mulheres. Eu vejo os fotógrafos
homens perto de mim, eles sempre
têm referências em outros fotógrafos
homens, e quase nunca em nós.
E acho que isso também tem acontecido
com as mulheres. Eu pelo
menos tenho buscado hoje muito
mais referências femininas. Porque
eu vejo que a forma de contar,
a forma de falar, a forma de sentir o
mesmo assunto é muito diferente.
Eu também cheguei à conclusão
que, primeiro, eu sou vista como
mulher para depois ser vista
como profissional. Pra mim, isso
é sempre um desafio – de mostrar
que além de ser mulher, sou
profissional. E tem o fato também
das mulheres se verem mais representadas
quando estão nesses veículos,
quando nos vêm publicando,
várias mulheres me procuram,
me chamam para conversar, me
pedem apoio. Vejo como uma forma
de estimular outras mulheres
a produzirem seus materiais, contarem
suas versões da história.
No universo do simbólico,
quais os desafios para não
se reproduzir as narrativas
patriarcais?
Eu acredito que é praticar a
escuta. Temos que evitar que continue
essa forma que foi consolidada
na comunicação, na História,
em que a leitura principal é
sempre feita pelos homens – por
um homem rico, intelectual, branco.
Se queremos contar histórias
das pessoas que estão sentindo na
pele algum sofrimento, o principal
cuidado é a escuta e não silenciar
nunca. Se a pessoa precisa dizer
aquilo, se ela tá questionando algo,
é porque de fato aquilo tá mexendo
com ela e precisa falar, falar…
o quanto for preciso. E isso é uma
coisa que eu tenho, uma preocupação
muito grande no meu trabalho
que é de não interromper a fala,
de não deixar a pessoa intimidada
com alguma questão. Quando
você se coloca de igual para igual,
quando você senta ali lado a lado,
olha no olho da pessoa, consegue
ter um pouco mais de sensibilidade
com o que ela tá te dizendo, com
o que ela pode te dizer. Acho que a
fotografia e o jornalismo, às vezes,
acabam oprimindo essas pessoas,
porque elas não conhecem
muito desse universo e isso pode
ser um pouco violento para muitas
delas que não estão acostumadas
ou que nunca estiveram de frente
a uma câmera, de frente para
essa produção de imagem, produção
textual. Eu tenho uma preocupação
com isso, de humanizar, ser
cuidadosa com as formas de fazer.
As pessoas sentem, têm dificuldades,
elas têm medo, insegurança,
assim como qualquer pessoa tem.
Nada como empatia para fazer
com que as coisas fluam melhor,
com que elas sejam mais sinceras,
para que esses meios sejam
simplesmente uma ferramenta de
diálogo, de denúncia, de fala; mas
que elas tenham esse protagonismo,
para que possam construir as
narrativas do que para elas é interessante,
importante dizer. Aí, já
evitamos muitos problemas dessa
forma engessada que foi construída
ao longo da história.
Qual seu sentimento a cada
vez que esteve e está com sua
câmera frente a uma mulher
atingida?
Meu sentimento em retratar cada
mulher é empatia, sororidade,
cuidado, amor. Porque eu sempre
me coloco no lugar delas, como alguém
que poderia também ter sido
atingida. E penso sobre como estaria
minha vida hoje, se eu fosse
uma dessas mulheres que perdeu
casa, familiares, um modo de vida,
de trabalho, as relações sociais, as
relações de afeto etc. Eu sempre me
coloco no lugar delas para entender
qual o ponto de vista, qual a questão
que elas trazem, o que vivem.
Eu me identifico com as palavras,
eu me identifico com a forma como
elas trazem essas questões. Eu me
acho uma ferramenta para trazer
essas histórias, porque não deve ser
nada fácil para elas ter que enfrentar
tantas questões, tantos desafios.
Então, eu acredito que vejo com sensibilidade,
com cuidado. E acredito
que, de alguma forma, isso é sentido
também por elas. Entendem que eu
não sou como elas, porque eu não
vivo as questões que elas estão vivendo,
mas que eu me coloco como
uma delas. E eu acredito que o trabalho
consiga ser um pouco mais sensível
porque tem esse olhar cuidadoso,
que se coloca, que se joga ali,
que se precisar deitar e dormir junto
ali, se precisar de dividir espaço,
alguma coisa, eu vou estar ali. É assim
que eu enxergo essas mulheres
e quero continuar compartilhando
com elas essas situações para conseguir
ser mais sensível quando faço
algum dos meus trabalhos.
Revista Elas por Elas - março 2020
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