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Elas por elas 2020

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

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Programa de Financiamento Estudantil

(Fies) e o Programa Universidade

para Todos (ProUni). O acesso

das pessoas à educação, sobretudo

no campo das artes, mostra que há

uma revolução em curso no Brasil

que não tem volta”, afirma.

Ela destaca a importância do papel

da arte não só para a construção

de narrativas como de ocupação

de espaços. “Na década de 40, a

ideia do movimento negro era ocupar

esse espaço. Nas artes cênicas

teve um movimento artístico, intelectual

e político muito forte, com

o jornalista Abdias do Nascimento,

quando se destacou a primeira

atriz negra Ruth de Souza. A partir

daí, houve um grande número de

pessoas negras ocupando espaços

nas artes”, conta Tatiana.

Cinema negro: poucas

mulheres no elenco

e na direção

Segundo a professora Tatiana

Carvalho, em termos de produções

artísticas, há uma multiplicidade

muito grande de artistas negros fazendo

cinema, mas, ainda, há muita

desigualdade de gênero e raça,

principalmente nos espaços de liderança.

Ela lembra que a primeira

mulher negra roteirista e diretora

de filme que rodou em circuito

comercial foi Adélia Sampaio, em

1984, com o filme Amor Maldito. “Se

considerar a época do nascimento

do cinema no Brasil, demorou mais

de 80 anos para isso acontecer. Somente

em 2017, surgiram mais mulheres

negras no circuito comercial,

entre elas as cineastas Camila de

Morais e Glenda Nicássio”, relata.

Um levantamento feito pelo Grupo

de Estudos Multidisciplinares da

Ação Afirmativa (Gemaa), da Universidade

Estadual do Rio de Janeiro

(UERJ), mostra que, de 2002 a 2014,

homens brancos dominaram o elenco

principal das 20 maiores bilheterias

de cada ano. Ao todo, eles representam

45% dos papéis mais relevantes.

Depois vêm mulheres brancas

(35%), homens negros (15%) e,

por último, mulheres negras (apenas

5%). Em 2002, 2008 e 2013, simplesmente

nenhum filme analisado

pelos pesquisadores foi protagonizado

por uma mulher negra.

A discrepância é mais gritante

quando se olha para os diretores

e roteiristas: 84% dos cineastas

são homens brancos; 14%, mulheres

brancas; e 2%, homens negros.

E nenhuma diretora negra

aparece no comando de uma produção

de grande bilheteria nos 13

anos analisados pelo estudo. Também

não assinou roteiro algum.

Nenhuma

diretora negra

aparece no

comando de

uma produção

de grande

bilheteria...”

Um levantamento da Agência Nacional

do Cinema (Ancine) apontou

que nenhum filme foi dirigido ou

roteirizado por uma mulher negra

no ano de 2016. Dados que representam

um marcador importante

de desigualdade.

Por sua vez, como consequência

das políticas sociais e culturais

e barateamento de equipamentos,

cresceu a produção de curtas-metragens

e festivais de cinema que

cada vez mais se preocupam com a

representatividade das pessoas negras

e com a temática étnico-racial

nas telas. Tatiana Carvalho, realizadora

do filme Minha África Imaginária,

a ser lançado em 2021, e jurada

em festivais de cinema, conta

que, na sua última edição, o Festival

de Cinema de Tiradentes passou

a pedir declaração de raça dos

participantes. O resultado foi que

menos de um terço eram filmes dirigidos

por pessoas que se autodeclararam

negras.

Segundo a professora, pode-se

afirmar que a ascensão de movimentos

artísticos contra-hegemônicos

no Brasil deve-se a quatro fatores:

maior acesso às universidades;

ascensão econômica da classe

C; crescimento dos festivais de cinema,

inclusive de cinema negro, e

o papel das redes sociais no debate

sobre feminismo negro que se dissemina

em lugares onde não se ouvia

falar antes.

Tatiana acredita que essa ascensão

socioeconômica que reflete

na arte gerou uma reação de setores

conservadores da sociedade.

“Há uma disputa narrativa, a pós-

-verdade instaurada que o atual

Revista Elas por Elas - março 2020

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