Onofre Lopes Júnior - Fundação Jose Augusto
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Inspiração no morro de Mãe Luíza<br />
O segundo encontro com o artista foi no seu ateliê,<br />
em Mãe Luíza, situado na rua Largo do Farol, nas<br />
proximidades do monumento que identifi ca o bairro,<br />
no mesmo endereço em que mora com a esposa Nilza, a<br />
sogra e o fi lho Lenon Li, nome dado em homenagem ao<br />
ex-Beatle John. Naquela casa simples, despojada de luxo,<br />
ele às vezes trabalha freneticamente, às vezes se entrega ao<br />
ócio das entressafras.<br />
Certamente é ali, naquele bairro, que Marcelus Bob<br />
encontra inspiração na fauna humana para compor os<br />
personagens que permeiam sua obra. Nas vizinhanças<br />
todos o conhecem, todos sabem quem ele é. Parece ser<br />
tão popular quanto era um outro ilustre morador daquele<br />
morro, já falecido, o poeta dândi Blecaute.<br />
Já ocorreu de levar seus quadros para a bodega do Deda,<br />
onde entre um gole e outro fi ca colhendo as impressões<br />
do povo a respeito da sua arte. Nestas ocasiões, os<br />
“humanóides encapuzados” costumam provocar<br />
polêmica. As fi guras são interpretadas de muitas maneiras<br />
diferentes. Uns acham que elas são coisas de Deus, outros,<br />
do diabo. Uma mulher negra disse que os tipos sombrios<br />
que apareciam naquela tela eram semelhantes aos da Ku<br />
Klus Klan, organização criminosa e racista dos EUA.<br />
Segundo Marcelus Bob, as pessoas simples do morro têm<br />
uma sensibilidade aguçada pela arte de viver.<br />
A serena rebeldia de Marcelus Bob o levou a buscar outro<br />
canal de expressão para fazer ecoar seu uivo iconoclasta.<br />
Foi assim que fundou há 12 anos, e ainda hoje lidera,<br />
o Grupo Escolar, uma banda de rock pesado, aliás<br />
pesadíssimo, como ele mesmo frisa, no qual toca guitarra<br />
e atua como compositor e vocalista. Pelo grupo passou<br />
gente da qualidade de Tadeu Litoral, Paulinho Procópio<br />
(também fundadores), Cleudo Freire, Geraldinho<br />
Carvalho e Ilo Sérgio. Hoje, ao lado de Marcelus Bob,<br />
fi guram Glauco (baterista) e Leão (baixista). Numa das<br />
letras composta em parceria com Paulo Procópio, na<br />
música intitulada “A Bomba”, está escrito o singelo alerta:<br />
“Bomba... vamos explodir essa bomba/bomba, vamos<br />
trocar bombons por bomba”.<br />
O artista que tempos atrás teve problemas com a polícia<br />
por sair nas madrugadas frias borrando os muros da<br />
cidade com “grafi tes”, agora se debruça sobre um projeto<br />
para comemorar os 25 anos de vida artística. Além de<br />
promover uma exposição,<br />
em data a ser defi nida, quer<br />
publicar um livro, pelo Sebo<br />
Vermelho, com fotos das<br />
séries de quadros que pintou<br />
(humanóides, repentistas,<br />
rendeiras, pescarias, instrumentos<br />
musicais, paisagens<br />
litorâneas, etc...). Os textos<br />
vão fi car sob a tutela de Dácio<br />
Galvão, Jota Medeiros e João<br />
da Rua, só para citar alguns.<br />
Sua produção, neste período,<br />
é grande. Calcula uns cinco<br />
mil quadros, de todos<br />
os tamanhos e formatos,<br />
incluindo os minúsculos.<br />
Talvez seja exagero. Talvez<br />
não. Atualmente participa<br />
do M8M (Movimento<br />
8 de Março – Dia do<br />
Artista Plástico), que busca<br />
movimentar as artes plásticas<br />
no Estado.<br />
É certo, contudo, que<br />
Marcelus Bob continuará<br />
produzindo e expondo.<br />
Ele que já perdeu a noção<br />
de quantas exposições<br />
participou, contabiliza seis<br />
prêmios na sua carreira,<br />
dois deles conferidos pela<br />
<strong>Fundação</strong> José <strong>Augusto</strong> e<br />
outros dois em circuitos<br />
artísticos do Nordeste. É<br />
quase certeza, também, que<br />
toda vez que vê uma paisagem<br />
deslumbrante, como uma lua<br />
cheia despontando por trás<br />
das dunas e iluminando a<br />
vastidão do mar, o fi lho de<br />
dona Odete pega lápis e papel<br />
e registra. Faz bem à alma.<br />
Julho 2004<br />
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