23.12.2012 Views

Onofre Lopes Júnior - Fundação Jose Augusto

Onofre Lopes Júnior - Fundação Jose Augusto

Onofre Lopes Júnior - Fundação Jose Augusto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Inspiração no morro de Mãe Luíza<br />

O segundo encontro com o artista foi no seu ateliê,<br />

em Mãe Luíza, situado na rua Largo do Farol, nas<br />

proximidades do monumento que identifi ca o bairro,<br />

no mesmo endereço em que mora com a esposa Nilza, a<br />

sogra e o fi lho Lenon Li, nome dado em homenagem ao<br />

ex-Beatle John. Naquela casa simples, despojada de luxo,<br />

ele às vezes trabalha freneticamente, às vezes se entrega ao<br />

ócio das entressafras.<br />

Certamente é ali, naquele bairro, que Marcelus Bob<br />

encontra inspiração na fauna humana para compor os<br />

personagens que permeiam sua obra. Nas vizinhanças<br />

todos o conhecem, todos sabem quem ele é. Parece ser<br />

tão popular quanto era um outro ilustre morador daquele<br />

morro, já falecido, o poeta dândi Blecaute.<br />

Já ocorreu de levar seus quadros para a bodega do Deda,<br />

onde entre um gole e outro fi ca colhendo as impressões<br />

do povo a respeito da sua arte. Nestas ocasiões, os<br />

“humanóides encapuzados” costumam provocar<br />

polêmica. As fi guras são interpretadas de muitas maneiras<br />

diferentes. Uns acham que elas são coisas de Deus, outros,<br />

do diabo. Uma mulher negra disse que os tipos sombrios<br />

que apareciam naquela tela eram semelhantes aos da Ku<br />

Klus Klan, organização criminosa e racista dos EUA.<br />

Segundo Marcelus Bob, as pessoas simples do morro têm<br />

uma sensibilidade aguçada pela arte de viver.<br />

A serena rebeldia de Marcelus Bob o levou a buscar outro<br />

canal de expressão para fazer ecoar seu uivo iconoclasta.<br />

Foi assim que fundou há 12 anos, e ainda hoje lidera,<br />

o Grupo Escolar, uma banda de rock pesado, aliás<br />

pesadíssimo, como ele mesmo frisa, no qual toca guitarra<br />

e atua como compositor e vocalista. Pelo grupo passou<br />

gente da qualidade de Tadeu Litoral, Paulinho Procópio<br />

(também fundadores), Cleudo Freire, Geraldinho<br />

Carvalho e Ilo Sérgio. Hoje, ao lado de Marcelus Bob,<br />

fi guram Glauco (baterista) e Leão (baixista). Numa das<br />

letras composta em parceria com Paulo Procópio, na<br />

música intitulada “A Bomba”, está escrito o singelo alerta:<br />

“Bomba... vamos explodir essa bomba/bomba, vamos<br />

trocar bombons por bomba”.<br />

O artista que tempos atrás teve problemas com a polícia<br />

por sair nas madrugadas frias borrando os muros da<br />

cidade com “grafi tes”, agora se debruça sobre um projeto<br />

para comemorar os 25 anos de vida artística. Além de<br />

promover uma exposição,<br />

em data a ser defi nida, quer<br />

publicar um livro, pelo Sebo<br />

Vermelho, com fotos das<br />

séries de quadros que pintou<br />

(humanóides, repentistas,<br />

rendeiras, pescarias, instrumentos<br />

musicais, paisagens<br />

litorâneas, etc...). Os textos<br />

vão fi car sob a tutela de Dácio<br />

Galvão, Jota Medeiros e João<br />

da Rua, só para citar alguns.<br />

Sua produção, neste período,<br />

é grande. Calcula uns cinco<br />

mil quadros, de todos<br />

os tamanhos e formatos,<br />

incluindo os minúsculos.<br />

Talvez seja exagero. Talvez<br />

não. Atualmente participa<br />

do M8M (Movimento<br />

8 de Março – Dia do<br />

Artista Plástico), que busca<br />

movimentar as artes plásticas<br />

no Estado.<br />

É certo, contudo, que<br />

Marcelus Bob continuará<br />

produzindo e expondo.<br />

Ele que já perdeu a noção<br />

de quantas exposições<br />

participou, contabiliza seis<br />

prêmios na sua carreira,<br />

dois deles conferidos pela<br />

<strong>Fundação</strong> José <strong>Augusto</strong> e<br />

outros dois em circuitos<br />

artísticos do Nordeste. É<br />

quase certeza, também, que<br />

toda vez que vê uma paisagem<br />

deslumbrante, como uma lua<br />

cheia despontando por trás<br />

das dunas e iluminando a<br />

vastidão do mar, o fi lho de<br />

dona Odete pega lápis e papel<br />

e registra. Faz bem à alma.<br />

Julho 2004<br />

11

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!