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Onofre Lopes Júnior - Fundação Jose Augusto

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Um stalinista sonha com o parlamento<br />

Osório Almeida edita um jornal alternativo há 20 anos<br />

(começou com o nome de “Rangal” e hoje se chama “De<br />

Esquerda Quadrinhos”). Nos primeiros anos, por não ter<br />

diploma de jornalista, enfrentou problemas e os amigos<br />

jornalistas Ubirajara Macedo e Miranda Sá assinavam<br />

as publicações. É também um escritor prolífi co. Tem 22<br />

livros publicados (todos edição do autor), entre poesia,<br />

ensaio e fi cção: “Coração Beat”, “Fim da Linha”, “O antiherói<br />

das Estradas”, “O Chapéu Furado”, entre outros.<br />

As edições são precárias e as tiragens limitadas, próprias<br />

de um “escritor alternativo”, como ele próprio se defi ne.<br />

O jornal – hoje uma página, frente e verso, mas que já<br />

chegou a ter oito páginas - com textos e quadrinhos, tem<br />

tiragem de 300 a 500 exemplares. Metade é vendida, de<br />

mão em mão, a 50 centavos, no centro da cidade, a outra<br />

metade é distribuída gratuitamente.<br />

Há dez anos custa o mesmo preço. – Um modelo de<br />

administração – diz com orgulho.<br />

Em busca de votos<br />

No telefone, dias antes, quando ligo para marcar a<br />

entrevista, Osório se mostra entusiasmado e diz que a<br />

lembrança veio em boa hora. Considera que a reportagem<br />

16 Julho 2004<br />

o ajudará a ganhar alguns votos nas próximas eleições,<br />

quando disputará um mandato de vereador pelo PDT. Ele<br />

também está animado porque foi escolhido para conduzir<br />

a “agitação e propaganda” do partido, visando ajudar os<br />

candidatos nas eleições.<br />

A plataforma eleitoral desse stalinista (“sou stalinista<br />

assumido, não tem quem me demova dessa idéia”),<br />

taoísta e maoísta convicto já está pronta. Sua principal<br />

bandeira, chegando à Câmara Municipal, será “salvar o<br />

centro de Natal”. “Sou um homem do meu bairro, não<br />

saio do centro nem por cem e uma cocada”. As ações em<br />

prol do centro ele promete estender aos bairros da Ribeira<br />

e Alecrim.<br />

Mas Osório não pretende fi car só na defesa dos três bairros<br />

citados acima. Está nos seus planos criar uma fundação<br />

cultural – <strong>Fundação</strong> Karl Marx. Mas ele esclarece na<br />

bucha: essa não terá nada de assistencialismo, ambulâncias,<br />

essas coisas, será voltada para a cultura. Também está no<br />

seu programa abrir um restaurante popular macrobiótico<br />

(ele se alimenta à base de arroz integral e não come carnes<br />

vermelhas); arrendar os prédios onde funcionavam os<br />

cinemas Rio Verde e entregar ao artista plástico Falves<br />

Silva e ao cinéfi lo Paulo Palocha para gerenciá-los; criar a<br />

banda de rock “Fila do SUS” (“a banda durará enquanto<br />

tiver fi la para ser atendida pelo SUS”); Criar uma galeria<br />

de arte popular; entrar com um projeto para aumentar<br />

o número de guardas municipais, com o objetivo de<br />

patrulhar o Centro, a Ribeira e o Alecrim; manter um<br />

advogado de plantão para livrar da cadeia os que forem<br />

apanhados com “bagulho”; e criar o jornal “Caixa Preta”,<br />

para mostrar a sujeira da burguesia.<br />

– Que é o que Lenin manda fazer.<br />

Não será a primeira vez que esse renitente comunista tenta<br />

chegar ao parlamento. Em 1982 foi candidato a deputado<br />

estadual pelo PMDB e em 1990 pelo PSDB. No PSDB<br />

fi cou doze anos e não guarda uma boa recordação desse<br />

período. “Foram doze anos perdidos, ou partidinho<br />

nojento”. Antes de chegar ao PDT, em 2003, milita um<br />

ano no PC do B. “Me desencantei com o PC do B, mas<br />

não com o comunismo”, esclarece.<br />

Mas nada iguala a decepção e o sofrimento com a perda<br />

de visão do olho direito, que ele atribui a terroristas de<br />

direita e fanáticos religiosos, que não o perdoam por ser<br />

comunista a ateu. No ensaio “O que a vida me deu”, ele<br />

conta de maneira amargurada e revoltada, a história do<br />

descolamento da retina, que o deixou completamente

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