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Onofre Lopes Júnior - Fundação Jose Augusto

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Preá – Quando é que ele tem a idéia de criação da<br />

Universidade?<br />

<strong>Onofre</strong> <strong>Lopes</strong> Jr. – Para falar da Universidade, temos<br />

de falar da Faculdade de Medicina, que foi o embrião<br />

da Universidade. Meu pai era o lugar-tenente de<br />

Januário Cicco {médico}. Januário era mandão, tinha<br />

um temperamento fortíssimo. Papai também tinha um<br />

temperamento fortíssimo. Uma vez, num bate-papo,<br />

eu, Eriberto Bezerra e Leide Morais abordamos esse<br />

aspecto. Como é que duas pessoas de temperamentos tão<br />

fortes nunca brigaram? Se davam às mil maravilhas. Na<br />

época, Januário disse a meu pai que havia a necessidade<br />

de se fundar a Faculdade de Medicina e argumentou:<br />

– Nós pegamos os nossos melhores jovens e mandamos<br />

fazer o curso médico lá fora. O sujeito vai para Recife,<br />

a maioria, para o Rio de Janeiro, São Paulo, quando<br />

termina, o mercado local sustenta esse pessoal por lá<br />

e os nossos melhores cérebros não vêm para cá. Então<br />

havia necessidade de formar gente aqui. A idéia de fazer<br />

a Faculdade de Medicina foi de Januário. Então, o que<br />

acontece: papai operando lá no hospital, clinicando e<br />

Januário bota pra morrer. Ele morava na Ribeira, ali na<br />

Duque de Caxias. Um dia papai recebe um chamado<br />

para ir para lá, que Januário tinha tido um infarto.<br />

Quando chegou lá, estavam Graco Magalhães e Álvaro<br />

Vieira. Januário com pressão zero. Álvaro, muito nervoso,<br />

tentando verifi car a pressão dele. Aí ele disse: – Ou Álvaro<br />

acabe com isso, você não sabe que eu vou morrer, para<br />

que essa besteira? <strong>Onofre</strong>, venha pra cá. Segurou a mão<br />

de papai – isso corroborado por Graco – e disse: <strong>Onofre</strong> é<br />

o seguinte, você é a pessoa que eu estou escolhendo agora<br />

para tomar conta de tudo isso. Não deixe a minha obra<br />

se acabar. Não se esqueça de criar a Faculdade. Papai era<br />

muito moço e sentia difi culdade de impor a sua liderança<br />

àqueles médicos mais antigos, apesar de ungido para<br />

dirigir a Sociedade de Assistência Hospitalar.<br />

Preá – O que era essa Sociedade de Assistência<br />

Hospitalar?<br />

<strong>Onofre</strong> <strong>Lopes</strong> Jr. – Era uma entidade de direito<br />

privado, sem fi ns lucrativos, que recebia subvenção do<br />

governo, que fazia quermesse, rifa, feijoada, tudo isso,<br />

para manter o hospital funcionando. E Januário, àquela<br />

época, construiu a maternidade da seguinte forma: ele ia<br />

até à rua Doutor Barata, passava nas lojas e dizia: olha,<br />

amanhã o senhor manda deixar uma carrada de tijolo;<br />

passava noutro e dizia, manda deixar uma tonelada de<br />

ferro, e assim ia, mais adiante conseguia uma carrada<br />

de areia. Tudo isso era doação, ele não pagava. Uma<br />

ordem dele, ai daquele que tentasse descumprir. Naquelas<br />

quermesses que ele fazia, as senhoras da sociedade eram<br />

reunidas para angariar dinheiro. Quando terminou a<br />

construção da maternidade, começou a Segunda Guerra<br />

Mundial. Já fazia alguns meses que havia terminado a<br />

construção, mas não se tinha dinheiro para comprar<br />

os equipamentos. Com a guerra, o Exército confi scou<br />

a maternidade, que passou a ser o Hospital Militar de<br />

Natal. Então, as tropas daqui utilizavam o hospital, os<br />

feridos que vinham da Europa também se tratavam lá. Ao<br />

término da Segunda Guerra o Exército chama Januário e<br />

entrega a maternidade. Só que totalmente equipada, com<br />

roupa de cama, talher, tudo, tudo. Isso foi uma maravilha<br />

para Januário: ele receber a maternidade nessas condições.<br />

Então, a Sociedade de Assistência Hospitalar cuidava<br />

dos dois hospitais, da maternidade e do hospital, que na<br />

época se chamava Hospital Miguel Couto, que havia sido<br />

Hospital Juvino Barreto.<br />

Preá – O hospital começou a ser erguido por Juvino<br />

Barreto.<br />

<strong>Onofre</strong> <strong>Lopes</strong> Jr. – Exatamente. Foi ele quem colocou<br />

uma casa de veraneio, que fi cava lá onde depois foi<br />

instalado o hospital, para tratar dos pobres. Juvino era um<br />

sujeito muito rico e podia se dar a esse luxo. Aquilo foi<br />

crescendo, espicha pra cá, espicha para lá, sem qualquer<br />

planejamento, até que se transformou no que é hoje.<br />

Com base nisso aí, nesses dois hospitais, inventa-se de<br />

fazer uma jornada médica em Natal, lá na Rampa.<br />

Preá – Isso na década de 50?<br />

<strong>Onofre</strong> <strong>Lopes</strong> Jr. – Sim. Quando acontece isso, vêm<br />

professores da Faculdade de Medicina de Recife, da<br />

Paraíba, de Fortaleza e Antônio Figueira, do Recife,<br />

disse: – <strong>Onofre</strong>, você tem uma estrutura aqui para fazer a<br />

Faculdade de Medicina. É fazer. E a gente vai lhe ajudar.<br />

Ao que papai respondeu: – É, mas eu vou precisar de<br />

professor de anatomia, que não tenho, de histologia, de<br />

farmacologia, e isso são os primeiros anos. Mas, é nessa<br />

jornada que ele toma a decisão, sem ter nada na mão,<br />

para fazer a Faculdade de Medicina. É quando assume<br />

o Governo do Estado Dinarte Mariz. Ele vai atrás de<br />

Julho 2004<br />

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