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Onofre Lopes Júnior - Fundação Jose Augusto

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Maria de Leandro: “sempre bulindo”<br />

Chegar até a comunidade de Vieiras é um deleite aos olhos. A estrada<br />

que liga São Miguel à zona rural próxima ao açude Bonito passa por vales<br />

verdes entre as serras e milharais. Neste cenário, pouco parecido com a<br />

aridez do sertão potiguar, vivem pouco mais de 30 famílias dedicadas ao<br />

cultivo da terra e ao artesanato com barro.<br />

A arte de moldar o barro dando forma a panelas, pratos e vasos vem sendo abandonada.<br />

A maioria das famílias passou a viver das plantações de feijão, milho e fava. Maria<br />

Santana da Silva, 82 anos, conhecida como Maria de Leandro ou Mãe Velha, continua<br />

fi rme no ofício herdado dos tempos do “véio Domingos Vieira dos Santos”, patriarca<br />

da comunidade e seu tataravô.<br />

Mãe Velha começou a trabalhar “desde bem pequenininha”. A mãe adotiva, Maria São<br />

Miguel de Jesus, também era artesã e ensinou as fi lhas. “Desde os 7 ou 8 anos a gente<br />

catava pedrinha de barro. Esta catrevagem, desse jeito assim, faço desde 1982”, diz,<br />

apontando para as panelas e potes de barro que ocupam boa parte do espaço da sua<br />

casinha de quarto e sala.<br />

A artesã continua recebendo muitas encomendas de panelas de barro e conjuntos de<br />

pratos. Irrequieta, a mais antiga moradora da comunidade diz não conseguir fi car sem<br />

fazer nada.“Um quer panela, outro cuscuzeira, outro prato e por aí vai. Tenho que tá<br />

mexendo com uma coisa e outra. É sempre bulindo”.<br />

O trabalho com o barro envolve várias etapas até a confecção das peças. A matéria<br />

prima vem dos “barreiros com um palmo de fundo, dois ou três”. Os dois tipos de<br />

barro utilizados no artesanato são encontrados na própria comunidade de Vieiras e,<br />

também, no município de Encanto. “Tem o barro gomoso e o moreno”. O primeiro é<br />

deixado de molho e peneirado a seguir. A artesã cobre o moreno com o gomoso, coloca<br />

a mistura no torno e forma as vasilhas. “Dá um trabalho que só sabe quem vê. As outras<br />

não querem fazer, mas eu enquanto for viva tenho que me bulir”.<br />

Julho 2004<br />

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