Onofre Lopes Júnior - Fundação Jose Augusto

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O horóscopo
Carlos Lins Onofre (Estudante do curso de
Arquitetura e Urbanismo da UFRN)
Ilustração: Sayonara Pinheiro
- Gilda, você tem alguma mágoa de mim?
- Claro que não, meu amor – disse Gilda em entonação
infantil para o marido, dando-lhe um beijo na testa – Por
que você está me perguntando uma coisa dessas?
- Porque eu vou morrer quinta-feira, e eu queria ir embora
sem que você tivesse mágoas de mim.
A frase do marido fez Gilda empalidecer, e abrir a boca
sem dizer uma palavra. Breno quebrou o silêncio:
- Você quer saber que história é essa de eu morrer quintafeira,
né?
- É.
- Foi meu horóscopo que disse.
- Horóscopo? – agora ela começa a falar mais alto – que
porcaria de horóscopo é esse?! Quero ver esse horóscopo
que diz: “Todos os capricornianos vão morrer na
próxima quinta, mas antes disso, preste atenção nas más
companhias! Sua cor da sorte é o preto, sabe como é, o
luto!” – vociferou Gilda num deboche eufórico.
- Você não está levando a sério...
Julho 2004
- Eu que devo reclamar que é você que está levando a
sério! Onde foi que você viu esse horóscopo?
- Eu sonhei.
-Sonhou. Ah, sim, claro, agora, querido, eu entendi
muito bem, você sonhou com seu horóscopo... – disse ela
calmamente, como se estivesse a falar com uma criança.
- Exatamente – completou Breno.
- E então ele disse que você morreria quinta? – perguntou
Gilda, perplexa.
- Isso mesmo. Sabe, mas eu não lia o horóscopo, como se
fosse jornal, era assim, um homem que dizia que era meu
horóscopo e que eu ia morrer quinta...
- Ah, um homem...
- Parecia o mago Merlin!
- Vai que era ele! O mago Merlin, dizendo que era o seu
horóscopo, comentou, assim, rapidinho com você a data
de sua morte?
- Acho que eu já falei isso. Você tem a mínima noção da
importância dos sonhos em nossas vidas?