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Onofre Lopes Júnior - Fundação Jose Augusto

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Entrevista: <strong>Onofre</strong> <strong>Lopes</strong> <strong>Júnior</strong><br />

Preá – Quando ocorre a vinda dos <strong>Lopes</strong> da Silva para o<br />

Rio Grande do Norte?<br />

<strong>Onofre</strong> <strong>Lopes</strong> Jr. – Mais ou menos no ano de 1840,<br />

um <strong>Lopes</strong> da Silva foi julgado e condenado em Cuité<br />

(PB). Naquela época eles estavam concentrados lá. Aí<br />

um outro <strong>Lopes</strong> da Silva, primo, foi ao juiz. – Seu juiz, o<br />

rapaz é meu primo, o senhor tem de ter consideração. O<br />

juiz, que não sabia com quem estava falando disse: – está<br />

condenado e vai comer cadeia. Então o <strong>Lopes</strong> da Silva<br />

falou: – ou perdoa o meu primo ou morre aqui, agora.<br />

Aí um policial colocou o fuzil nas costas dele. – Se você<br />

fi zer alguma coisa com o juiz eu te mato. Outro <strong>Lopes</strong> da<br />

Silva foi por trás do policial e colocou uma garrucha na<br />

cabeça dele, dizendo em seguida: – Se você atirar nele,<br />

morre, Manoel, tá tudo livre aqui atrás. Então, ele atirou,<br />

matou o juiz e fugiu. Claro que depois disso os ares se<br />

tornaram horríveis para os <strong>Lopes</strong> da Silva. Assim, ele<br />

sai de lá e vai se esconder numa fazenda no interior de<br />

Currais Novos. Lá ele começou a trabalhar. O fazendeiro<br />

tinha uma fi lha muita bonita, ele se apaixonou por ela e<br />

se casou. Mas só que aquele local onde ele estava fi cava<br />

muito próximo da Paraíba e havia o perigo da polícia da<br />

Paraíba, que não era brincadeira, chegar e prendê-lo.<br />

Então, ele saiu de lá e veio se esconder no Comum, que<br />

naquela época fazia parte do município de São José de<br />

Mipibu. O Comum era uma fazenda abandonada, onde<br />

tinha uma tribo de índios e alguns brancos. Esse pessoal<br />

cultivava essa fazenda comumente, daí o lugar se chamar<br />

Comum. Esse camarada teve três fi lhos: Manoel <strong>Lopes</strong> da<br />

Silva, Honório <strong>Lopes</strong> da Silva e José <strong>Lopes</strong> da Silva. Esse<br />

José <strong>Lopes</strong> da Silva se estabeleceu lá no Comum, mesmo<br />

depois da morte dos pais, e passou a ter uma ascendência<br />

naquela comunidade, que era muito pobre. Uma<br />

ascendência relativamente forte, a tal ponto que passou<br />

a ser o chefe local. Se fosse hoje em dia seria o chefe<br />

66 Julho 2004<br />

político. José <strong>Lopes</strong> da Silva teve dez fi lhos. O nono foi<br />

meu pai {<strong>Onofre</strong> <strong>Lopes</strong> da Silva}. O primeiro foi Genésio<br />

<strong>Lopes</strong> da Silva. Genésio – que depois viria a ser coronel<br />

da PM – sai lá do Comum e vem sentar praça na polícia.<br />

Quando meu pai se torna rapazinho, ele o manda buscar<br />

no Comum para ir para a escola, em Natal. Ele já tinha<br />

sido alfabetizado lá no Comum, aos trancos e barrancos,<br />

e vem para Natal para a escola do Professor Batalha, onde<br />

faz o primário e se transforma em professor da escola,<br />

mas continuou a trabalhar como balconista de tio Joca,<br />

um dos tios dele, irmão de Genésio. A bodega fi cava ali<br />

na Felipe Camarão. Então, papai foi balconista durante<br />

muito tempo até que terminado o curso secundário,<br />

ele resolve ir para Recife, onde tinha uma Faculdade de<br />

Medicina e ele queria prestar Vestibular. Aparece, então,<br />

um grande amigo, Godofredo Freire, que pega dinheiro,<br />

entrega a papai e diz: – Quando você se formar você me<br />

paga. Vá-se embora. Em Recife, ele prestou Vestibular de<br />

Medicina, passou e logo arranjou para ser professor numa<br />

classe de carvoeiros. Veio a agitação política, quarteladas,<br />

e um dia meu pai soube que a escolinha dos carvoeiros<br />

tinha sido fechada pela polícia porque era um antro de<br />

comunistas. Com receio de ser preso, ele foge do Recife,<br />

embora não fosse nem comunista nem nada.<br />

Preá – Godofredo Freire era parente de Jessé Freire?<br />

<strong>Onofre</strong> <strong>Lopes</strong> Jr. – Acho que era irmão, não tenho<br />

certeza. Jessé Freire era primo longe da gente. Então,<br />

meu pai vai ser representante de laboratório. Quando<br />

ele termina o terceiro ano, chega a conclusão de que<br />

a Faculdade de Medicina de Recife era muito fraca e<br />

manifesta interesse em ir para a Nacional, que era a<br />

principal Faculdade de Medicina do Brasil. Novamente<br />

Godofredo Freire paga para ele ir para o Rio de Janeiro.<br />

Ficou lá também como representante de laboratório,<br />

levando uma vida muito pobre; não havia bolsa, não<br />

havia nada. Foi quando apareceu um concurso da<br />

Marinha para internos. Ele estudou e passou em primeiro<br />

lugar. Quando ele já estava para se formar, o diretor da<br />

Faculdade de Medicina o chama e diz: - <strong>Onofre</strong>, eu<br />

recomendei seu nome para Londrina, uma cidade que<br />

está sendo construída e não tem médico. Ele argumentou<br />

que tinha mãe e pai velhos aqui e que o lugar dele era no<br />

Rio Grande do Norte e que tinha de vir para ajudá-los.<br />

Recusou e veio embora. Chegando aqui, montou um<br />

pequeno consultório, muito modesto para clinicar.

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