Onofre Lopes Júnior - Fundação Jose Augusto
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James Joyce<br />
Algumas considerações sobre<br />
. . . . . . . .<br />
“O dia de Bloom”<br />
34 Julho 2004<br />
Moacy Cirne (Poeta e teórico de quadrinhos)<br />
Sempre fui um admirador de James<br />
Joyce. Em 1966, escrevendo para o<br />
jornal O Povo, de Natal, saudei a tradução<br />
brasileira do “Ulisses”. Acredito que, na<br />
imprensa natalense, fui o único a fazê-lo.<br />
Hoje, considero-o o segundo, terceiro<br />
ou quarto melhor romance do século<br />
XX. “Grande sertão: veredas” (Guimarães Rosa) e “A<br />
montanha mágica” (Thomas Mann) me dizem mais. Sob<br />
alguns aspectos, “O processo” (Kafka) também me parece<br />
mais signifi cativo. Mas o problema aqui é outro. Em sua<br />
estrutura fi ccional, a ação transcorre dentro daquilo que<br />
é conhecido como “o dia do personagem Bloom”, ou<br />
simplesmente “o dia de Bloom”. Decerto, em se tratando<br />
de Joyce, o convencional vira não-convencional. Embora<br />
seja bem menos radical do que “Finnegans´s wake”,<br />
“Ulisses” não é um livro fácil. Alguns não conseguem<br />
devorá-lo. Paciência...<br />
Em Dublin, cidade de Joyce e local da ação romanesca<br />
em pauta, há muito e muito tempo que se comemora,<br />
nos bares locais, “o dia de Bloom”. Nada mais justo, nada<br />
mais adequado. Em São Paulo, com seu provincianismo<br />
cosmopolita, também se faz a mesma coisa. Em sendo<br />
nos bares, tem seu encanto. No Rio, macaqueando São<br />
Paulo, já se fez algo parecido. Acho que ainda se faz.<br />
Tomar um porre em homenagem a Joyce pode ser um<br />
bom programa etílico. Eventualmente, improvisam ou<br />
encenam happenings com leituras da obra. Nada muito<br />
sério, a não ser que alguns lacanianos resolvam assumir<br />
a “homenagem”, como aconteceu agora no Recife. Sem<br />
querer fazer trocadilho, deve ter sido um porre...<br />
Mas vejamos o caso de Natal, especifi camente. O<br />
Rio Grande do Norte, desde os anos 20 do século<br />
passado, tem apostado criativamente na dicotomia<br />
tradição/modernidade ou tradição/vanguarda. No<br />
primeiro momento, com Cascudo (tradição) e Manoel<br />
Dantas e Jorge Fernandes (modernidade); no segundo<br />
momento, de novo Cascudo (tradição) e José Bezerra<br />
Gomes e o poema/processo (vanguarda). Mas tem<br />
apostado, sobretudo, na valorização dos elementos que<br />
compõem a cultura potiguar. Neste particular, o próprio<br />
poema/processo poderia ter investido mais (no período<br />
1967-72) nas questões culturais pertinentes a norte-riograndecidade.<br />
Não o fez, equivocadamente.