Onofre Lopes Júnior - Fundação Jose Augusto
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Nos dias 27 e 28 de julho, no Teatro Alberto Maranhão<br />
(TAM), o grupo paraibano Apocalipse encenou<br />
“Diálogos de Nuestra América”, peça baseada no “Livro<br />
das Respostas” publicado por Diógenes da Cunha Lima,<br />
em face ao “Livro de Las Preguntas”, escrito por Neruda e<br />
lançado em edição póstuma.<br />
Ainda dentro das comemorações do centenário, foi<br />
realizada uma mesa redonda, na ANL, com participações<br />
do tradutor ofi cial de Neruda, Ivo Barroso; dos escritores<br />
Tarcísio Gurgel e Edson Neri; do poeta Diógenes da<br />
Cunha Lima e do jornalista Vicente Serejo, entre outros<br />
nerudianos, que debateram a participação do poeta<br />
na literatura mundial. “A comemoração não foi só em<br />
Natal”, esclarece Diógenes. “O mundo todo comemorou<br />
o centenário de Neruda. Há quase uma associação das<br />
pessoas que o consideram o poeta maior. É informal, mas<br />
há nerudianos em todos os países do mundo”.<br />
“Diálogos de Nuestra América”<br />
Até poderia ser um sonho, até poderia ser verdadeiro.<br />
Meio onírico, meio real. Assim é a peça “Diálogos de<br />
Nuestra América”, encenado pelo grupo paraibano<br />
Apocalipse como parte das comemorações do centenário<br />
do nascimento de Neruda. O espetáculo foi apresentado<br />
em Natal nos dias 27 e 28 de julho, no Teatro Alberto<br />
Maranhão (TAM), com a direção de Roberto Cartaxo<br />
e teatralização de Altimar Pimentel, autor do premiado<br />
“Como Nasce um Cabra da Peste”.<br />
O texto foi extraído do “Livro de Respostas”, de Diógenes<br />
da Cunha Lima. O início da elaboração das respostas<br />
para las preguntas de Neruda surgiu quando o cronista<br />
Veríssimo de Melo, amigo pessoal de Diógenes, o pediu<br />
que respondesse a três, das 311 questões formuladas<br />
pelo chileno. Diógenes explica que na época se dizia que<br />
tais perguntas não deveriam ser respondidas, pois eram<br />
resultados das idéias oníricas de Neruda. Mesmo assim, o<br />
advogado vestiu-se de oniromante e começou a cumprir<br />
a encomenda. “Fui me encantando com as respostas e fi z<br />
oito vezes esse livro. Até que respondi às 311 perguntas e<br />
escrevi “O Livro das Respostas”, conta.<br />
“Por que los inmensos aviones no se pasean con sus<br />
hijos?” (Por que os imensos aviões não levam seus fi lhos<br />
para passear?) foi a primeira pergunta a ter uma refutação.<br />
E assim Diógenes respondeu: “Para que os fi lhotes não<br />
desarrumem a posição das estrelas.” A mais difícil foi “De<br />
qué ríe la sandia cuando la están asesinando?” ( De que ri<br />
a melancia quando a estão assassinando?). “Com humor<br />
negro a boca vermelha da melancia constata: o seu sorriso<br />
foi feito a golpe de faca”, respondeu Diógenes.<br />
Altimar Pimentel conta que, ao ler o “Livro das<br />
Respostas”, viu a possibilidade teatral do texto. E com<br />
todo prazer que a poesia proporciona, ele desenvolveu<br />
situações cênicas para o – até então, quase – diálogo. No<br />
palco, Altimar pôs ao lado dos personagens Neruda e<br />
Diógenes, dois vagabundos e uma bailarina. Enquanto os<br />
protagonistas conversam sobre Las Preguntas e Respostas,<br />
os vagabundos dizem coisas surrealistas e a bailarina<br />
forma o elo de ligação entre os personagens.<br />
O diretor Roberto Cartaxo aceitou o desafi o de colocar<br />
um poema no palco. E com aplausos de pé, o público<br />
retribuiu seu empenho. Foi mais de um ano de montagem<br />
e três meses de ensaio, três vezes por semana, até a estréia<br />
em maio, em João Pessoa-PB. Depois disso, o grupo já<br />
esteve nos palcos de Maceió-AL, em junho.<br />
Criador extraordinário<br />
O calendário de 1904 marcava 12 de julho quando<br />
nasceu, em Parral, no Chile, Neftalí Ricardo Reyes<br />
Basalto – Pablo Neruda, um dos principais poetas do<br />
seu país, mas que seria conhecido em todo o restante do<br />
mundo. Desde muito jovem encantou-se pela literatura<br />
e passou a projetar sobre o papel todo seu sentimento.<br />
As poesias da sua primeira fase transmitem angústia,<br />
porém com boas doses de romantismo, parte disso por<br />
infl uência do poeta norte-americano Walt Whitman. Na<br />
fase seguinte, adotou um estilo surrealista infl uenciado<br />
por André Breton e Paul Éluard.<br />
Com apenas 20 anos publicou seu primeiro livro<br />
chamado “Crepusculário”, no qual já assinou Pablo<br />
Neruda. O pseudônimo surgiu para despistar o pai,<br />
que não se agradava da idéia de que seu fi lho fosse<br />
poeta. O sobrenome Neruda é uma homenagem ao<br />
poeta tcheco Jam Neruda. “Pablo Neruda consagrou-se,<br />
principalmente, pela sua extraordinária criação. Ele era<br />
sinônimo de poesia. Trabalhava a palavra como ninguém,<br />
de forma sarcástica, inovadora, criadora, da altura dos<br />
Andes”, descreve Diógenes da Cunha Lima.<br />
Para defi nir a América com poucas palavras, Pablo<br />
Neruda a chamou de “El continente de la injusticia” (O<br />
continente da injustiça), mostrando a preocupação que<br />
Julho 2004<br />
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