Onofre Lopes Júnior - Fundação Jose Augusto
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Leontino Filho<br />
a saga e o segredo de urdir os restos do lirismo amoroso<br />
36 Julho 2004<br />
Márcio de Lima Dantas (Professor de Literatura<br />
Portuguesa do Depto. de Letras da UFRN )<br />
Todo mundo sabe quanto se tornou difícil, nos últimos<br />
tempos, o manuseio de textos artísticos que lancem<br />
seus vetores à tradição da literatura ocidental conhecida<br />
como lírica amorosa. As linhas de continuidade às quais se<br />
vincula o discurso poético sobre o amor, pelo menos nos<br />
moldes como fomos acostumados a senti-lo/representálo,<br />
e também como é difundido pela mídia, parecem ter<br />
atingido o seu fastígio com as transformações que o século<br />
XX ferrou nos relacionamentos interpessoais, coisa que<br />
me parece sem retorno e que também, de outra parte,<br />
não deve causar transtornos, malgrado o desvelamento<br />
de uma hipocrisia insistente, produzida por um discurso<br />
advindo das classes dominantes, eivado de Ideologia,<br />
possibilitador da reprodução do status quo favoráveis<br />
àqueles mesmos que desde sempre estiveram no poder.<br />
O que eu quero dizer é que o poeta Leontino Filho,<br />
nascido em Aracati, antiga cidade do Ceará, vivendo<br />
desde muito na capitania do Rio Grande, ainda consegue<br />
retirar leite das pedras, dada sua capacidade de lidar com<br />
a linguagem, haja vista seu enorme talento de suplicar<br />
metáforas à Érato; sim, isso mesmo, uma rara faculdade<br />
de extrair delicadas epifanias sobre o amor e todos os<br />
afl uentes temáticos que o entornam. Ou seja, ainda as<br />
possibilidades do que fi cou conhecido e estabelecido,<br />
muita vez equivocadamente, com a rubrica lirismo<br />
amoroso. Reparemos um bom exemplo daquilo a que<br />
acima me refi ro, encontrado no livro Sagrações ao meio<br />
(1993): antropofagicamente/reclamo as minhas sobras.<br />
Com efeito, várias qualidades são encontradas na poesia<br />
de Leontino Filho, que se mostra sóbria, madura, em<br />
rasgos de originalidade e lampejos semânticos, numa<br />
linguagem elíptica, elegante, manuseando discretamente<br />
o vocabulário regional, sobrepondo com habilidade os<br />
versos parataticamente uns sobre os outros, olvidando o<br />
enjambement, desprezando, porém deixando implícita, a<br />
gramática do vernáculo, na consecução do signo poético.<br />
Bom mesmo é constatar quanto o poeta se encontra em<br />
contemporânea vibração com os modos de sentir das