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COMUNICAÇÕES 224 - A Senhora Simplex (2017)

APDC 224 - A Senhora Simplex Setembro 2017

APDC 224 - A Senhora Simplex
Setembro 2017

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apdc secção<br />

portugal outsourcing<br />

so a dados sobre o que está a ser<br />

feito nos países membros. Essa<br />

visão de “helicóptero” permite-<br />

-lhe afirmar que “tem havido em<br />

Portugal um grande esforço de<br />

modernização administrativa<br />

com a oferta de serviços públicos<br />

digitais” e não hesita em considerar<br />

que se registaram “grandes<br />

saltos” no avanço desse processo.<br />

A título de exemplo gosta de<br />

referir o caso do sistema de preenchimento<br />

do IRS, que passou a<br />

ser “praticamente automático”<br />

e que ficou “muito bem cotado a<br />

nível internacional”, porém nesta<br />

engrenagem há peças que não<br />

encaixam e que comprometem a<br />

evolução harmoniosa para a sociedade<br />

digital: “Se pensarmos<br />

nos mais vulneráveis, pessoas<br />

com incapacidades, idosos, desempregados,<br />

gente que não tem<br />

facilidade de aceder a um computador,<br />

percebemos que o sistema<br />

ainda está longe de ser inclusivo”,<br />

afirma.<br />

Ana Maria Evans sublinha<br />

que, tal como agora se diz no<br />

mundo dos negócios quando se<br />

fala da relação com os clientes,<br />

“os cidadãos têm de estar no centro”,<br />

porque a função de quem<br />

estabelece as regras de funcionamento<br />

da economia e sociedade<br />

digitais “deve ser, primeiro que<br />

tudo, facilitar a vida do cliente ou<br />

do cidadão”.<br />

Nesta lógica a investigadora<br />

sublinha que “a preocupação com<br />

a digitalização, em si mesma, não<br />

responde aos problemas” que a<br />

transformação digital coloca no<br />

dia-a-dia à sociedade: “Desde<br />

que não exista um alinhamento<br />

entre a digitalização, que é um<br />

meio, e o processo e o fim, que é<br />

o atendimento do cidadão ou do<br />

cliente, estaremos a criar assimetrias<br />

indesejáveis”.<br />

Também entre a cultura instalada<br />

e a evolução tecnológica há<br />

desajustamentos a ultrapassar,<br />

como nota esta expert em e-government:<br />

“Podemos ter tudo desmaterializado,<br />

mas continuamos a<br />

ter formulários muitíssimo complicados<br />

de preencher”.<br />

Contra a continuação da “cultura<br />

do formulário”, desajustada<br />

do ideal digital, Ana Maria Evans<br />

reclama por um atendimento<br />

mais eficiente às pessoas, algo<br />

Há um gap<br />

entre o que se<br />

lê nos media e<br />

a forma como<br />

os empresários<br />

traduzem essas<br />

informações que<br />

circulam, para o<br />

seu microcosmos<br />

que passa também pela interoperabilidade<br />

entre instituições:<br />

“Já tivemos grandes avanços processuais<br />

no país. Mas os maiores<br />

avanços só se verificarão quando<br />

for possível aplicar o ‘once-only<br />

principle’, que permitirá a um cidadão<br />

com apenas um contacto<br />

com a Administração Pública”<br />

resolver qualquer problema de<br />

natureza cívica.<br />

Esta desburocratização só será<br />

viável com a partilha de dados<br />

entre instituições, algo que levanta<br />

problemas de regulação sobre<br />

segurança e privacidade, mas<br />

que não por acaso é o objeto do<br />

novo regulamento europeu para<br />

a proteção de dados pessoais que<br />

entra em vigor no próximo ano.<br />

Front office /back office<br />

Enquanto a organização da sociedade<br />

não se adaptar às mudanças<br />

impostas pela evolução tecnológica,<br />

continuaremos a caminhar<br />

em direção ao futuro a duas velocidades,<br />

com a tecnologia demasiados<br />

passos à frente da cultura<br />

instituída.<br />

Este problema, que é crítico para<br />

quem idealiza uma sociedade<br />

digital bem adaptada às necessidades<br />

humanas, pode porém ser<br />

debelado através de algumas reformas<br />

simples de adotar.<br />

Ana Maria Evans dá o exemplo<br />

do que tantas vezes se observa<br />

nos serviços de atendimento ao<br />

público, tantos deles baseados<br />

em sistemas de outsourcing, “em<br />

que os funcionários não foram<br />

treinados para ajudar quem tem<br />

dificuldades em aceder ao sistema<br />

eletrónico”, ou “em que entre<br />

back office e front office não existe<br />

qualquer tipo de sincronia, resultando<br />

o atendimento numa experiência<br />

frustrante para o utente”.<br />

Estas distorções continuam a<br />

condicionar a vida das pessoas e<br />

a própria dessincronização entre<br />

a velocidade da tecnologia e a velocidade<br />

da aquisição de competências.<br />

Baseada em estatísticas da<br />

CE, Ana Maria Evans, conclui:<br />

“Enquanto tivermos apenas 41%<br />

da população que consegue interagir<br />

com as entidades públicas<br />

através de serviços públicos digitais,<br />

estaremos muito longe de<br />

uma sociedade verdadeiramente<br />

digital”.•<br />

C

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