COMUNICAÇÕES 224 - A Senhora Simplex (2017)
APDC 224 - A Senhora Simplex Setembro 2017
APDC 224 - A Senhora Simplex
Setembro 2017
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
apdc secção<br />
portugal outsourcing<br />
so a dados sobre o que está a ser<br />
feito nos países membros. Essa<br />
visão de “helicóptero” permite-<br />
-lhe afirmar que “tem havido em<br />
Portugal um grande esforço de<br />
modernização administrativa<br />
com a oferta de serviços públicos<br />
digitais” e não hesita em considerar<br />
que se registaram “grandes<br />
saltos” no avanço desse processo.<br />
A título de exemplo gosta de<br />
referir o caso do sistema de preenchimento<br />
do IRS, que passou a<br />
ser “praticamente automático”<br />
e que ficou “muito bem cotado a<br />
nível internacional”, porém nesta<br />
engrenagem há peças que não<br />
encaixam e que comprometem a<br />
evolução harmoniosa para a sociedade<br />
digital: “Se pensarmos<br />
nos mais vulneráveis, pessoas<br />
com incapacidades, idosos, desempregados,<br />
gente que não tem<br />
facilidade de aceder a um computador,<br />
percebemos que o sistema<br />
ainda está longe de ser inclusivo”,<br />
afirma.<br />
Ana Maria Evans sublinha<br />
que, tal como agora se diz no<br />
mundo dos negócios quando se<br />
fala da relação com os clientes,<br />
“os cidadãos têm de estar no centro”,<br />
porque a função de quem<br />
estabelece as regras de funcionamento<br />
da economia e sociedade<br />
digitais “deve ser, primeiro que<br />
tudo, facilitar a vida do cliente ou<br />
do cidadão”.<br />
Nesta lógica a investigadora<br />
sublinha que “a preocupação com<br />
a digitalização, em si mesma, não<br />
responde aos problemas” que a<br />
transformação digital coloca no<br />
dia-a-dia à sociedade: “Desde<br />
que não exista um alinhamento<br />
entre a digitalização, que é um<br />
meio, e o processo e o fim, que é<br />
o atendimento do cidadão ou do<br />
cliente, estaremos a criar assimetrias<br />
indesejáveis”.<br />
Também entre a cultura instalada<br />
e a evolução tecnológica há<br />
desajustamentos a ultrapassar,<br />
como nota esta expert em e-government:<br />
“Podemos ter tudo desmaterializado,<br />
mas continuamos a<br />
ter formulários muitíssimo complicados<br />
de preencher”.<br />
Contra a continuação da “cultura<br />
do formulário”, desajustada<br />
do ideal digital, Ana Maria Evans<br />
reclama por um atendimento<br />
mais eficiente às pessoas, algo<br />
Há um gap<br />
entre o que se<br />
lê nos media e<br />
a forma como<br />
os empresários<br />
traduzem essas<br />
informações que<br />
circulam, para o<br />
seu microcosmos<br />
que passa também pela interoperabilidade<br />
entre instituições:<br />
“Já tivemos grandes avanços processuais<br />
no país. Mas os maiores<br />
avanços só se verificarão quando<br />
for possível aplicar o ‘once-only<br />
principle’, que permitirá a um cidadão<br />
com apenas um contacto<br />
com a Administração Pública”<br />
resolver qualquer problema de<br />
natureza cívica.<br />
Esta desburocratização só será<br />
viável com a partilha de dados<br />
entre instituições, algo que levanta<br />
problemas de regulação sobre<br />
segurança e privacidade, mas<br />
que não por acaso é o objeto do<br />
novo regulamento europeu para<br />
a proteção de dados pessoais que<br />
entra em vigor no próximo ano.<br />
Front office /back office<br />
Enquanto a organização da sociedade<br />
não se adaptar às mudanças<br />
impostas pela evolução tecnológica,<br />
continuaremos a caminhar<br />
em direção ao futuro a duas velocidades,<br />
com a tecnologia demasiados<br />
passos à frente da cultura<br />
instituída.<br />
Este problema, que é crítico para<br />
quem idealiza uma sociedade<br />
digital bem adaptada às necessidades<br />
humanas, pode porém ser<br />
debelado através de algumas reformas<br />
simples de adotar.<br />
Ana Maria Evans dá o exemplo<br />
do que tantas vezes se observa<br />
nos serviços de atendimento ao<br />
público, tantos deles baseados<br />
em sistemas de outsourcing, “em<br />
que os funcionários não foram<br />
treinados para ajudar quem tem<br />
dificuldades em aceder ao sistema<br />
eletrónico”, ou “em que entre<br />
back office e front office não existe<br />
qualquer tipo de sincronia, resultando<br />
o atendimento numa experiência<br />
frustrante para o utente”.<br />
Estas distorções continuam a<br />
condicionar a vida das pessoas e<br />
a própria dessincronização entre<br />
a velocidade da tecnologia e a velocidade<br />
da aquisição de competências.<br />
Baseada em estatísticas da<br />
CE, Ana Maria Evans, conclui:<br />
“Enquanto tivermos apenas 41%<br />
da população que consegue interagir<br />
com as entidades públicas<br />
através de serviços públicos digitais,<br />
estaremos muito longe de<br />
uma sociedade verdadeiramente<br />
digital”.•<br />
C