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COMUNICAÇÕES 224 - A Senhora Simplex (2017)

APDC 224 - A Senhora Simplex Setembro 2017

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Setembro 2017

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mentos ou outras festas hindus,<br />

goesas, muçulmanas, ou quando<br />

nos ofereciam comida, por exemplo,<br />

no fim do Ramadão. Fora os<br />

queijos esquisitos, que adorava,<br />

que chegavam nos barcos noruegueses<br />

que vinham buscar a copra.<br />

Há muitas outras memórias,<br />

como a de irmos à noite iluminar<br />

a pista do aeroporto com os automóveis<br />

para permitir que ele,<br />

num pequeno avião, pudesse levar<br />

doentes urgentes para a Rodésia<br />

(hoje Zimbabwe).<br />

Tem pena de não ter registado essas<br />

riquíssimas histórias de vida<br />

do seu pai?<br />

Sim, muita pena. Histórias que<br />

com ele se perderam. No ano passado,<br />

deram o nome dele a uma<br />

avenida em Quelimane pela forma<br />

como ajudou pessoas perseguidas<br />

pela PIDE e como tratou<br />

todos de forma igual. Um antigo<br />

doente disse na homenagem que<br />

“o doutor tinha tratado a perna<br />

dele como se fosse branca”. Ensinou-nos<br />

que o mundo é grande,<br />

falou--nos das suas viagens como<br />

jovem alferes por Timor, Macau,<br />

Austrália, Índia, Egito, e sobretudo<br />

como o mundo é tão diverso.<br />

Ele também a influenciou no seu<br />

percurso escolar? Sempre foi boa<br />

aluna, estudiosa, trabalhadora.<br />

Nunca quis perder nenhuma<br />

oportunidade de viver intensamente.<br />

É isto?<br />

Em minha casa sempre aprendemos<br />

que os bons resultados se<br />

fazem com muito trabalho e que<br />

não caem do céu. Mas adoro a<br />

vida. Vivo-a intensamente. Prezo<br />

os meus amigos, muito, e aproveito<br />

os momentos livres para os ver<br />

e cozinhar para eles. Tenho amigos<br />

em diferentes lugares do mundo,<br />

pessoas que fui conhecendo muitas<br />

vezes em projetos de trabalho.<br />

Apesar das suas funções governativas,<br />

sempre teve alguma aversão<br />

à vida partidária. Porquê? Estar<br />

dentro de um partido político<br />

pode ser castrador? É melhor estar<br />

de fora para poder escolher as<br />

causas em que verdadeiramente<br />

acredita?<br />

Em boa verdade não estou inscrita,<br />

mas contribuo ativamente<br />

para o partido em que voto sempre<br />

que sou chamada para isso.<br />

Não estou inscrita porque não<br />

gostei nada da primeira experiência<br />

que tive como militante<br />

do MES (Movimento de Esquerda<br />

Socialista). Reconheço que os<br />

partidos são necessários ao funcionamento<br />

das democracias e<br />

admiro muitos dos seus militantes<br />

que os mantêm vivos e, tanto<br />

quanto possível, saudáveis.<br />

No passado, já a tinham convidado<br />

para ser ministra e recusou.<br />

Porquê? E porque aceitou agora?<br />

Tem a ver com maturidade?<br />

Não, tem a ver com a experiência<br />

entretanto adquirida. Antes nunca<br />

tinha tido funções de governo,<br />

apenas funçõess académicas. O<br />

tempo de decisão é muito diferente,<br />

muito mais rápido nestas<br />

funções.<br />

Foi presidente do conselho científico<br />

da sua faculdade, montou<br />

projetos de investigação em África,<br />

Europa, América Latina. Já<br />

deu provas na vida de que é capaz<br />

de fazer coisas. O que a assustava<br />

mais na política era não ser julgada<br />

pela qualidade do seu trabalho,<br />

mas por outros fatores menores?<br />

Isso assusta sempre. Não creio<br />

C

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