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Segredos da comedia stand-up - Leo Lins marcado

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piadas como dar credibilidade a elas. Uma piada que teve intensidade 4 ou 5 três vezes consecutivas e

depois teve intensidade 2, desde que tenha sido entregue corretamente, mostra que o problema estava na

plateia.

É válido ressaltar que não utilizo mais essa escala, mas acredito que ela teve seu valor ao longo do

meu desenvolvimento. Abandonei esse trabalho, pois cada vez mais o tempo se torna um bem valioso e

preciso utilizá-lo de acordo com minhas prioridades. Atribuir valores numéricos a cada piada feita em

um show e comparar esses dados em um intervalo foram uma prática valiosa quando tinha tempo

disponível para isso, ao contrário de hoje. Mas creio que essa sistematização e o exercício de classificar

as piadas podem internalizar e criar uma espécie de memória sensorial que ao longo do tempo vai

automatizar esse processo e tornar dispensável o trabalho manual.

Tempo X intensidade

Quanto menos tempo você tem no palco, mais intenso deve ser o texto. Você vai eliminando as

piadas em grau de intensidade começando com as mais fracas. Porém, para fazer vinte minutos, trinta,

45, essas piadas são necessárias. Não dá para ser um ritmo frenético do começo ao fim.

No meu primeiro livro, no tópico “Estruturação do material” (maio de 2006), havia dito que quanto

menos tempo no palco, mais intensa deve ser a apresentação. Hoje tenho algumas ressalvas quanto à

intensidade do material. Repare que no parágrafo introdutório eu disse: “Você vai eliminando as piadas

em grau de intensidade, começando com as mais fracas”. O que isso quer dizer? Vamos supor que eu

tenha um texto de dez minutos sobre escola e vou subir ao palco para fazer apenas cinco. Nesse caso, as

piadas mais fracas são cortadas deixando os cinco minutos mais fortes do texto. No entanto, se os outros

cinco minutos não são quase tão fortes quanto os que foram selecionados, devem ser cortados para

sempre. Há alguns anos eu escrevi que, “para fazer vinte minutos, trinta, 45, essas piadas são

necessárias”. Hoje vejo que não, elas não são. Vejamos o cenário a seguir:

Tema

Duração do material Duração das piadas mais fortes

Escola 10 minutos 5 minutos

Filme 12 minutos 6 minutos

Doenças 8 minutos

2 minutos

Tenho trinta minutos de material, nos quais 13 são de piadas mais fortes e acabam sendo feitas com

mais frequência. Se for necessário um show de aproximadamente 13 minutos, estou preparado. Se for

uma apresentação de vinte, preciso de mais sete minutos de boas piadas para que meu show seja o

melhor possível.

Essas piadas mais fracas são como manchas escuras em uma fruta, elas até podem ser consumidas, mas

é preferível cortá-las. O tempo no palco causa um efeito darwinista no material do comediante e por

meio da seleção natural as piadas mais fracas serão extintas. Ou seja, em alguns anos os outros 17

minutos do material descrito anteriormente serão abandonados e substituídos por outros 17, totalizando

trinta minutos de piadas fortes. Mas será que vou manter um ritmo forte por trinta minutos? Isso nos leva

à última frase do parágrafo inicial: “não dá para ser um ritmo frenético do começo ao fim”. Certa vez fiz

um experimento: selecionei apenas piadas que tiveram ótimas reações e aplausos e fiz uma apresentação

só com elas. Algumas tiveram a reação que costumam obter, outras foram abaixo do normal e uma ou

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