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Agosto de 2008
Concursos de humor
Com o crescimento do stand-up, diversos programas de várias emissoras de TV organizaram
concursos de humor. Foram disputas individuais, em grupo, concursos exclusivamente de stand-up, outros
englobando personagens, contadores de piada, improviso. Empresários e artistas também abriram o olho
para os novos talentos, foi o caso do Risadaria, um dos maiores eventos de humor da América Latina,
que também organizou um campeonato de stand-up.
Cada concurso tem um critério, e a cruel verdade é que nenhum deles é justo. Seja com júri, votação na
internet, sorteio, qualquer método tem sua falha. Vamos supor que após um show com quatro humoristas
você pergunte para todos os espectadores de qual eles mais gostaram. Será quase impossível todos
falarem o mesmo. Pode ser que 50% tenham gostado mais do A, 30% do B, 18% do C e 2% do D. Agora
imagine que nessa mesma noite houve um campeonato e três jurados eram os responsáveis por indicar o
campeão. Apesar de a chance ser pequena, pode ser que dois dos jurados pertençam aos 2% que
gostaram mais do comediante D. Matematicamente falando, 98% das pessoas vão discordar da opinião
do júri e falar que o concurso foi roubado. No entanto, não houve trapaça, um infortúnio do destino
condenou à derrota o humorista que agradou a maioria da plateia e o puro acaso deu as glórias da vitória
ao candidato mais improvável.
Um júri técnico pode reduzir a chance de o acaso influenciar o resultado final. Mas também será
passível de falhas. Veja, por exemplo, os desfiles das escolas de samba. Inúmeras vezes a escola que
mais empolgou a avenida não foi a vencedora. Isso porque um pedaço do figurino da porta bandeira
descolou e a comissão de frente não estava sincronizada no momento que passou à frente de um jurado.
No voto popular a escola venceu, mas na opinião técnica ela teve que amargurar o quarto lugar. Isso é
justo?
Alguns concursos colocam como jurados pessoas que nunca fizeram stand-up ou indivíduos que nem
possuem ligação com humor. É justo em um concurso de stand-up o vencedor ter piadas copiadas de um
comediante estrangeiro? Não. Mas como um júri de leigos vai saber quem é o autor de uma piada?
A votação por telefone ou internet também apresenta falhas. Diversas pessoas pagam outras para votar
repetidas vezes. Logo, não vai ganhar quem tem mais piadas e sim quem tem mais dinheiro ou mais
contatos.
Portanto, quando tiver a oportunidade de entrar em um concurso, a primeira coisa que deve pensar é se
valerá a pena. Como será o concurso? Qual será o prêmio? Quais serão os critérios de julgamento? Qual
o grau de exposição?
No ano de 2012, o Domingão do Faustão organizou uma disputa de humor chamada “Jogo da
comédia”, na qual cada um dos participantes deveria fazer um número de stand-up, um esquete com
personagem e um número de imitação. A exposição era grande, afinal o programa tem muita audiência e o
prêmio era um carro zero quilômetro. Dois amigos meus entraram no concurso e foram massacrados pelo
júri. Infelizmente as críticas tinham fundamento, afinal, nenhum dos dois tinha experiência nos três estilos
que foram pedidos. Eu nunca entraria em um concurso em que tivesse que fazer um personagem, pelo
mesmo motivo que nunca entraria em um concurso de ventriloquismo. Simplesmente nunca fiz isso. Não
deixe a oportunidade de aparecer na TV ou ganhar um carro subir à sua cabeça, analise os riscos e
calcule se vale a pena.