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Segredos da comedia stand-up - Leo Lins marcado

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sem plateia e apresentador ruim. Nessa situação o melhor a ser feito é tentar soltar as piadas como se

fossem meros comentários, como se a sua intenção não fosse a de provocar o riso. Dessa forma, o

comediante se protege da ausência de reação de seu interlocutor. Se o apresentador for bom, ele fará o

papel da plateia, e a responsabilidade do sucesso mais uma vez recai sobre os ombros do humorista,

visto que o apresentador já está fazendo a parte dele. Um bom apresentador pode até compensar uma

plateia ruim (cenário 6), pois, mesmo sem grandes reações do público, o apresentador está com o

microfone, logo, o som da risada dele transparece mais do que o da plateia.

É importante ressaltar que as variáveis levadas em consideração aqui são: apresentador e plateia.

Estou partindo do princípio que a performance do comediante é boa, do contrário não adianta ter um bom

apresentador nem a melhor plateia. Um apresentador que ri de modo forçado para não deixar o clima da

apresentação constrangedor está longe do cenário ideal. Também não adianta um bom show e boas

reações da plateia se essas reações não aparecem nem são ouvidas no vídeo. Já fiz participações em

programas em que, no estúdio, a plateia ria bastante, mas como o áudio deles não foi bem captado,

quando assisti ao vídeo depois parecia que algumas piadas não tinham funcionado.

O próximo cenário é o 7: apresentador ruim e plateia ruim. A pior das situações junto com

apresentador ruim e sem plateia. A melhor saída para essa armadilha é usar a estratégia citada

anteriormente: soltar as piadas como se fossem meros comentários, como se a sua intenção não fosse a de

provocar o riso. Na oitava hipótese, com plateia boa e apresentador ruim, basta ignorar a ausência de

reação do apresentador e contar as piadas para a plateia. E o último cenário, plateia boa e apresentador

bom, não oferece nenhum perigo, dispare suas piadas e explore ao máximo a oportunidade.

Manual do entrevistado II

Alguns programas fazem uma pré-entrevista, ou seja, alguém da produção entra em contato com o

humorista para saber histórias ou fatos curiosos que podem ser abordados durante a entrevista. Quando

fui ao Programa do Jô pela primeira vez tive a sorte de ir com o grupo Comédia em Pé. Se, por um lado,

o tempo disponível acabou sendo divido por quatro (eu, Fábio Porchat, Claudio Torres Gonzaga e Paulo

Carvalho), por outro, não poderia ter todo o tempo para mim, pois naquela época ainda não tinha

experiência para explorar a oportunidade da melhor maneira. Como tive um quarto do tempo fui pontual e

consegui ser engraçado nesse breve período.

Passei por essa pré-entrevista antes de ir ao Jô, contei histórias engraçadas, falei que já tinha

trabalhado em escolas, dado aulas de capoeira etc. Mas o principal eu não fiz: dar as deixas para as

piadas que pretendia fazer na entrevista. O certo seria nessa pré-entrevista ter falado que eu tenho um

gato em casa e tenho piadas sobre as diferenças entre gato e cachorro e sobre outros bichos, uma delas é:

Cachorro e gato são os animais mais comuns que a gente tem em casa e cada um tem sua

particularidade. O cachorro é como se fosse seu filho, ele é uma criança, ele quer brincar o tempo

inteiro, ele quer te abraçar, ele quer pular... O gato é como se fosse... o seu avô, ele te vê, e matou

a saudade: ‘Vou comer e dormir, me acorda no lanche’. (Léo Lins)

Com essa informação em mãos o produtor a repassa para o redator, que ao escrever a pauta da

entrevista incluirá alguma pergunta para “levantar” para a piada do gato. “Levantar” é um termo utilizado

entre os comediantes para simbolizar o ato responsável por designar o momento de entrar com

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