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Show solo tem ritmo diferente
Estou vendo que num show solo, às vezes valorizar uma piada vale mais a pena do que ir
metralhando. Metralhar piadas dá certo em cinco minutos, dez, 15... Mas em 55, não tem como.
Entreter uma plateia por 15 minutos é uma tarefa que envolve determinados requisitos, entretê-la por
noventa minutos é um trabalho mais árduo. Podemos fazer uma comparação com velocistas e
maratonistas. O velocista é rápido e explosivo, consegue correr curtas distâncias em alta velocidade, mas
suas fibras musculares não têm a resistência necessária para se aventurar em uma maratona. Alguns
humoristas conseguem fortes reações em apresentações em grupo, mas o rendimento é menor ao se
apresentar sozinho. Outros podem não explodir a plateia em um curto período de tempo, mas conseguem
conduzi-la ao longo da maratona de um solo.
Talvez o leitor esteja com algumas dúvidas: É possível dominar as duas modalidades? Será que
algumas pessoas têm mais aptidão para um show solo do que outras? Posso me desenvolver em uma
dessas modalidades? É provável que o iniciante tenha mais contato com shows curtos e apenas alguns
meses ou anos depois comece a adquirir experiência com shows solo. Em um show de 13 minutos você
pode utilizar suas melhores piadas e tentar imprimir um ritmo forte e acelerado. Shows com noventa
minutos envolvem outra estratégia (para mais detalhes ver a seção “Anatomia do solo”, página 284). O
ideal é que, em alguns anos, você domine as duas modalidades.
O estilo do humorista pode determinar uma aptidão para um show em grupo ou solo. Lembro que em
uma das temporadas do programa Last Comedy Standing, havia um participante que era bem lento ao
entregar as piadas, parecia que estava chapado. Esse cara ganhava destaque ao se apresentar ao lado de
outros, pois era um estilo bem característico e diferente. Em uma noite com quatro ou cinco humoristas,
ele destoa dos demais. No entanto, não considero que assistir por noventa minutos alguém no ritmo dele
seria tão divertido. E ao se apresentar sozinho ele não teria a seu favor o fator “destoa dos demais”.
Quando é o terceiro humorista da noite, só de entrar no palco lentamente e começar a falar meio chapado
já é engraçado. No show solo isso não funcionaria. É como se os humoristas “normais” que entraram
antes dele fossem o setup, e o humorista lento e chapado fosse o punch line. E como já sabemos, sem
setup, o punch não funciona. É o que aconteceria quando ele se apresentasse sozinho. Portanto, o estilo
de um humorista pode influenciar seu sucesso em um show curto ou solo. Comediantes mais agitados e
enérgicos não podem começar o show solo a todo vapor, devem reduzir a velocidade e saber o momento
em que podem acelerar. Já os comediantes mais parados e lentos devem acelerar o ritmo para evitar uma
apresentação monótona.
Shows longos ou curtos são como exercícios aos quais, por meio de treino e prática, o seu corpo se
adapta. Logo, é possível se desenvolver e melhorar em ambas as modalidades. Para isso basta dedicação
e estudo. Se perceber que ao final do seu show solo as risadas não são tão intensas quanto no começo e
no meio, algo está errado. Pode ser que o show esteja muito longo, que as piadas do final não sejam tão
fortes, que um assunto foi muito explorado e a plateia tenha se saturado dele, que o primeiro terço do
show esteja com piadas e ritmo muito fortes. É preciso identificar o problema para corrigi-lo.
Foi mediante essa análise que meu show sofreu modificações, melhorando sua qualidade. Ao longo de
anos, mudei a ordem de tópicos, abandonei algumas piadas para não saturar um tema, escrevi algumas
novas para reforçar trechos do show que estavam mais fracos, acrescentei piadas para explorar mais um
tópico que era pouco aproveitado etc.
Ritmo de show