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trabalhar como ator. Eu tive receio no começo da carreira de estudar teatro e ficar artificial no palco. Os
atores que começavam no stand-up normalmente exageravam as reações, eu achava um pouco forçado e
artificial. Hoje acredito que ter estudado teatro não teria me atrapalhado, pois grandes comediantes
stand-up são atores e suas apresentações não são artificiais. Mas também não me arrependo de não ter
feito.
Posso me apresentar com o texto de outra pessoa, um redator? Isso é visto com bons olhos?
Desde que o redator tenha escrito aquela piada exclusivamente para você, sim. Imagine um grupo de
três humoristas que escrevem juntos e os três, quando fazem shows individuais em outros locais, contam
as mesmas piadas. Isso dificultará a carreira dos três. Se você tem um redator exclusivo, isso não é um
problema. Nos Estados Unidos não é incomum comediantes terem redatores escrevendo para eles. Isso
ocorre quando o humorista atinge um estágio na carreira em que o tempo de criar e lapidar material se
torna muito restrito. Necessitar de um redator no começo da carreira pode mostrar que você não tem os
requisitos para seguir na profissão de comediante.
Como interagir com a plateia sem abusar e não constranger?
Escrever piadas é uma técnica que pode ser melhorada dentro de casa. No improviso é possível se
preparar, por exemplo, antecipando possíveis respostas da plateia. Mas, para adquirir experiência nessa
habilidade, é necessário praticar no palco. Durante suas primeiras aventuras improvisando há grandes
chances de ultrapassar a linha do engraçado e soar agressivo. Eu já fiz isso e imagino que todos os
humoristas que interagem com o público também. Mas esse erro faz parte, o importante é não repeti-lo.
Um fator que determina a divisão entre grosseria e piada é, em primeiro lugar, a piada em si e, em
segundo, a forma que ela é entregue. É possível chamar o espectador de filho da pu%@ sem nenhum tom
de agressividade. Isso não é uma coisa que posso ensinar através de frases em um livro, depende de
muitos fatores: sua persona no palco, ambiente do show, o tipo de público.
Uma regra que pode auxiliá-lo no começo é: o comediante nunca deve agredir a plateia primeiro.
Imagine um humorista entrar em cena e falar: “Este palco é muito pequeno, acho que se eu me apresentar
em cima daquele cara (aponta para um cara bem gordo) vou ter mais espaço”. Provavelmente a maioria
das pessoas não vai rir dessa piada, embora ela seja engraçada. O comediante acabou de subir e atirou
uma pedra na plateia. O alvo da piada não vai gostar, e o restante do público tomará partido do inocente
que foi agredido de forma gratuita. Vamos imaginar outros cenários para a mesma piada:
Cenário A: O comediante está fazendo o show, e o sujeito gordo está conversando e atrapalhando os
demais. O humorista decide então interromper as piadas de televisão para soltar uma direcionada ao
gordo que está atrapalhando. Provavelmente a maioria do público vai rir, afinal, o alvo da piada não é
mais um inocente. Ele é um egoísta que está desrespeitando todas as pessoas que pagaram e querem
curtir o show.
Cenário B: O comediante que vai se apresentar é conhecido por tirar sarro da plateia e zoar com o
público. Ele entra em cena e dispara uma piada no gordo da primeira fila. Há grandes chances de todos
darem risada, afinal, essa é a expectativa do público em relação ao comediante que está entrando em
cena, pois ele é conhecido por esse estilo. O comediante Don Rickles fazia isso, ele tinha fama de
xingar e sacanear as pessoas em seu show. Caso não fizesse isso, deixaria o público frustrado. Atente
que para chegar a esse nível foi preciso muitos e muitos anos. Não adianta 5% da plateia saber que seu
estilo é fazer piada com o público.