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mais o que você é.
Ao longo da carreira sofremos modificações. As mudanças podem ser desde os temas abordados e o
comportamento no palco até as roupas utilizadas no show. Danilo Gentili, no começo da carreira, era
inocente, tímido e um tanto caipira. Anos depois se tornou o repórter que enfrentava os políticos
cobrando problemas da sociedade. O jeito caipira e tímido não fazia mais parte dele.
Murilo Couto fazia piadas sobre a novela Malhação, da qual participou, e tinha punch lines mais
marcados. Anos depois começou a transitar para outro estilo, iniciava o show falando: “Eu faço cocô
grande”. Fábio Porchat se apresentava sem tirar o microfone do pedestal, depois adquiriu como
característica mover-se por todo o palco. Fiz meus primeiros shows de terno, depois fui para roupas
esportivas. Apresentei-me no Faustão com uma calça de vinte reais e uma camisa de 15. Esse foi meu
figurino de gala. Anos depois, substituí as calças da C&A e da Renner por Adidas e Armani. Não pela
marca, mas pelo conforto e pela qualidade.
Bruno Motta ao longo dos anos adotou o blazer e um visual mais formal. Essa mudança no visual pode
ser brusca, lembro-me de ver um vídeo da série de TV Def comedy jam, em que o comediante norteamericano
Bernie Mac se apresentava com roupas rasgadas e pichadas. O mesmo cara, anos depois no
filme Original kings of comedy, estava com um terno de luxo.
Ao longo da carreira também abandonei diversas piadas por achar que não eram mais condizentes com
minha forma de pensar e agir. Veja esta, por exemplo:
Eu acho que cada um tem um dom pra uma coisa. Inclusive, outro dia vi uma reportagem falando
que quando você é criança já dá sinais do que vai ser quando crescer. Comigo deu certo, sempre
gostei de fazer as pessoas rirem. Preocupa a infância de um proctologista... Que infância pervertida
e doentia essa criança não teve?!
O trabalho que esses pais não tiveram? E a criança tem uma fase que enfia tudo na boca, imagine
essa?! Imagina essa criança brincando com bonecos? [Abaixa, simulando brincar de bonecos.]
– Hahaha, você está acabado, Batman.
– Não, vocês é que estão... [Imita musiquinha do Super-Homem] Vamos pegá-los, Batman. Uaaa!
Pof... Rrrrr rrrr rrrr rrrr rrr!
– O que é isso? [Vai girando o quadril]
– Parece uma nave gigante...
– Super-Homem, você será abduzido... [senta na frente do microfone, simulando se sentar em cima
dele para abduzir o Super-Homem] (Léo Lins)
Aos 23 anos eu fazia essa piada e tinha boas reações. Com mais de trinta, ia me sentir um pouco
ridículo fazendo-a. Pode ser que, aos 55 anos, volte a ficar engraçado. Não sabemos para onde o tempo
nos levará, é importante estar aberto às mudanças. Não tente adotar um estilo de se vestir, falar ou contar
piadas. O principal é deixar as mudanças, ou a ausência delas, acontecerem naturalmente.