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Com certeza você já teve um “branco” em uma prova do colégio ou ao tentar lembrar o nome de
alguém. A informação está na sua mente e como num passe de mágica ela desaparece, e pior, sem deixar
pistas de quando vai voltar. Nos palcos isso também acontece. Se você é iniciante vai passar por esse
infortúnio e se é experiente sabe que, mesmo assim, está sujeito ao desaparecimento das palavras que ia
proferir.
Sinceramente, não sei a explicação científica para esse fenômeno, mas pesquisas de campo me
permitiram detectar eventos que antecedem o “branco”. Ele ocorre após uma mudança no ambiente ou no
curso natural da piada.
Mudanças no ambiente podem ser: pessoas se levantando, a súbita intervenção de alguém da plateia, a
bandeja do garçom atingindo o chão etc. Acontecimentos como esses podem distraí-lo no palco. Você
está no meio do show e do fundo do teatro um choro de bebê ecoa na sala. O som invade seus ouvidos e,
como uma borracha, apaga a próxima frase que ia dizer.
A mudança no curso natural da piada acontece por acrescentar ou pular uma piada, assim como
avançar um vídeo com o botão fast forward pode travá-lo alguns segundos no momento do play. E,
embora não pareça, o simples fato de mudar uma palavra aparentemente irrelevante, como “a pessoa fica
tremendo” para “a pessoa fica sacudindo”, pode causar o branco.
Hesitei para pensar na piada seguinte no show passado. Ao contar a do pinheiro com o rifle, pulei a da formatura do meu primo e fui
direto pra piada do homem uniformizado.
(15/1/2008)
Entretanto, não tenha medo de alterar seu texto. Alguns comediantes são metódicos. Jerry Seinfeld é um
deles. Após acertar uma piada, ele a repete da mesma forma (veja os vídeos dele em que conta a mesma
piada em anos diferentes para comparar). Outros acreditam que basta falar algo com a mesma intenção,
ou seja, com a mesma ideia, mas que é possível mudar as palavras.
Para evitar o branco, o melhor é estar seguro com o texto que vai apresentar. Já que mesmo assim ele
pode ocorrer, o que fazer quando encontrá-lo? Uma das saídas é assumir. Eis a vantagem do comediante
em relação ao estudante, você pode admitir que esqueceu sem perder pontos na performance. Outra forma
de contornar o problema é seguir para a próxima piada da rotina. Se esta inteira foi apagada, comece um
novo tópico. O público não sabe o que você vai falar, logo, não vai perceber o que você fez.
Mais importante do que a próxima piada é não deixar transcorrer muito tempo. No momento em que
você esquece o que ia dizer, começa uma batalha contra o tempo. Como se a areia de uma ampulheta
caísse sobre você. Se demorar muito, o público vai perceber que você está perdido. Não adianta fingir
que nada está acontecendo enquanto seus neurônios procuram as palavras que sumiram para restabelecer
as risadas da plateia, que cessaram subitamente como em uma parada cardíaca. Portanto, se achar que o
tempo o sufocará, assuma que esqueceu. O público vai resgatá-lo da areia e você retribui a ajuda
seguindo para a próxima piada.
Mnemônica
Já que falei de esquecimento, o que acha de ser capaz de memorizar facilmente um set de piadas? Ou
mais, um show solo? Quem sabe dois shows solo? Isso pode ser feito mediante técnicas de memorização.