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Segredos da comedia stand-up - Leo Lins marcado

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odiados. O professor da plateia já reprovou alunos. Logo, o professor da plateia é odiado. A dedução é

utilizada como recurso cômico, pode ser que ele tenha reprovado apenas um aluno que faltou quase o ano

inteiro, mas isso não interessa. Nesse momento, a plateia e eu estamos interpretando que ele reprova

alunos por prazer.

Quando pergunto para um espectador “Você dá aula onde?”, a pergunta já induz a um possível erro.

Diversas vezes já tive respostas como:

– Duque de Caxias.

– Duque de Caxias... [silêncio] Você dá aula pro município inteiro, o prefeito reúne as

pessoas numa praça, você sobe num banco...

É óbvio que a resposta do espectador quer dizer que ele dá aulas “em” Duque de Caxias e não “para”

Duque de Caxias. Mas a minha pergunta induz ao erro. Repare que eu não falo: “Você dá aula em que

escola?”.

Veja o seguinte diálogo que já tive nos palcos:

Léo: Quem pagou as entradas?

Espectador: Cada um pagou a sua.

Léo: Então não vai comer.

Léo: Você trabalha com o quê?

Espectador: Sou delegado.

Léo: Ah, então vai comer!... Se quiser me comer também...

A primeira piada é por meio da dedução: sempre que um homem paga a entrada para uma mulher e a

convida para sair, ele quer levá-la para a cama. Se esse cara não fez isso, então não vai conseguir levá-la

para a cama. A segunda piada é induzida, afinal de contas, delegados são pessoas com alto salário e que,

provavelmente, têm mulheres interessadas neles. Se esse cara é um delegado, então essa mulher está

interessada nele.

Em outro show um rapaz da plateia falou: “Eu reprovei a oitava série duas vezes, foi um momento

difícil da minha vida...”. Mais tarde, ao interagir com outra pessoa, tive o seguinte diálogo:

– Você faz o quê?

– Sou dona de casa.

– Mas chegou a fazer uma faculdade...?

– Sou formada em psicologia.

– Você acabou abandonando a psicologia, o mercado de trabalho tá difícil...

– É...

– Olha, o fulano aqui tá precisando de uma psicóloga, ele teve um momento difícil, reprovou

duas vezes a oitava série...

Estou deduzindo que a espectadora quer um emprego. Afinal de contas, todo profissional formado quer

um emprego. Ela é formada. Logo, ela quer um emprego.

Em outra ocasião entrevistei o ator Bruno Gagliasso e perguntei:

– Você tatuou o número 13. Foi uma homenagem ao Zagallo?

– Não, foi pra mim mesmo.

– Você não gosta do Zagallo?

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