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odiados. O professor da plateia já reprovou alunos. Logo, o professor da plateia é odiado. A dedução é
utilizada como recurso cômico, pode ser que ele tenha reprovado apenas um aluno que faltou quase o ano
inteiro, mas isso não interessa. Nesse momento, a plateia e eu estamos interpretando que ele reprova
alunos por prazer.
Quando pergunto para um espectador “Você dá aula onde?”, a pergunta já induz a um possível erro.
Diversas vezes já tive respostas como:
– Duque de Caxias.
– Duque de Caxias... [silêncio] Você dá aula pro município inteiro, o prefeito reúne as
pessoas numa praça, você sobe num banco...
É óbvio que a resposta do espectador quer dizer que ele dá aulas “em” Duque de Caxias e não “para”
Duque de Caxias. Mas a minha pergunta induz ao erro. Repare que eu não falo: “Você dá aula em que
escola?”.
Veja o seguinte diálogo que já tive nos palcos:
Léo: Quem pagou as entradas?
Espectador: Cada um pagou a sua.
Léo: Então não vai comer.
Léo: Você trabalha com o quê?
Espectador: Sou delegado.
Léo: Ah, então vai comer!... Se quiser me comer também...
A primeira piada é por meio da dedução: sempre que um homem paga a entrada para uma mulher e a
convida para sair, ele quer levá-la para a cama. Se esse cara não fez isso, então não vai conseguir levá-la
para a cama. A segunda piada é induzida, afinal de contas, delegados são pessoas com alto salário e que,
provavelmente, têm mulheres interessadas neles. Se esse cara é um delegado, então essa mulher está
interessada nele.
Em outro show um rapaz da plateia falou: “Eu reprovei a oitava série duas vezes, foi um momento
difícil da minha vida...”. Mais tarde, ao interagir com outra pessoa, tive o seguinte diálogo:
– Você faz o quê?
– Sou dona de casa.
– Mas chegou a fazer uma faculdade...?
– Sou formada em psicologia.
– Você acabou abandonando a psicologia, o mercado de trabalho tá difícil...
– É...
– Olha, o fulano aqui tá precisando de uma psicóloga, ele teve um momento difícil, reprovou
duas vezes a oitava série...
Estou deduzindo que a espectadora quer um emprego. Afinal de contas, todo profissional formado quer
um emprego. Ela é formada. Logo, ela quer um emprego.
Em outra ocasião entrevistei o ator Bruno Gagliasso e perguntei:
– Você tatuou o número 13. Foi uma homenagem ao Zagallo?
– Não, foi pra mim mesmo.
– Você não gosta do Zagallo?