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punch line não existe e, consequentemente, a piada também não. O punch line “mijar um cocô” é muito
bom, simples, rápido e provoca uma imagem engraçada na mente de quem a ouve. Mas também não
adianta um bom punch line sem um bom setup.
Muitas vezes, até afinar uma piada, passamos perto do formato ideal. Algumas pessoas param no meio
do caminho e decidem entregar para a plateia o produto não finalizado. O que acontece? O público não ri
e o humorista joga fora o que poderia se tornar uma boa piada, por achar que ela não funciona. Imagine a
piada de Nany People nas seguintes formulações:
• Protótipo de piada 1: Homem acha a mulher fresca, queria ver se o homem mijasse um cocô.
• Protótipo de piada 2: Dor não é fácil, queria ver um homem mijar um cocô.
• Protótipo de piada 3: Tenho três filhos, isso não é fácil, meu marido nunca mijou um cocô.
Na primeira formulação não fica claro qual é a comparação. A piada apenas ganha força quando se
torna evidente que estamos dizendo que um bebê sair pela vagina da mulher é o mesmo que um cocô sair
pela uretra do homem. Falar que o homem considera a mulher fresca não nos faz pensar na dor do parto.
Na segunda formulação há o mesmo problema, a frase “dor não é fácil” é muito genérica. Estamos
falando de dor de cabeça? Cólicas estomacais? Dores musculares? Dores psicológicas? E a terceira
tentativa de piada também não estabelece a comparação de forma clara. Se você ouve alguém falar
“tenho três filhos, isso não é fácil”, é possível pensar diversas coisas. O público não vai necessariamente
ligar essa informação com o parto, mesmo que para ter os três filhos foi preciso dar à luz três vezes.
Da mesma forma, não adianta um bom setup com um punch line desajustado.
• Protótipo de piada 1: Dor do parto não é fácil e mijar cocô também não.
• Protótipo de piada 2: Dor do parto não é fácil, o homem pra sentir isso precisaria dar à luz um cocô.
• Protótipo de piada 3: Dor do parto não é fácil, seria o mesmo que um cocô ser urinado por um
homem.
• Protótipo de piada 4: Dor do parto não é fácil, seria o mesmo que o homem mijar o cocô.
O primeiro protótipo estabelece uma comparação, mas da maneira que a frase foi formulada não se
transmite a ideia de que, para o homem saber o que é a dor do parto, ele precisaria urinar um cocô. Ela
apenas diz que a dor do parto seria tão ruim quanto urinar um cocô. Podemos estabelecer várias
comparações como essa:
• Dor do parto não é fácil, escalar o Everest também não.
• Dor do parto não é fácil, andar com caranguejo no bolso também não.
• Dor do parto não é fácil, tossir um tatu-bola também não.
O segundo protótipo não possui um punch line claro, a expressão “dar à luz” causa um efeito que
chamamos de “levar para outro lugar”. Quando falamos “mijar um cocô”, a imagem provocada pelas
palavras é forte e clara. Ao dizer “dar à luz um cocô”, a imagem não é tão clara, alguns podem imaginar
um homem de pernas abertas e o médico retirando um cocô; outros podem visualizar um homem com a
barriga cortada e o médico pegando um cocô. O que torna a piada engraçada é o cocô sair pela uretra; a
palavra “mijar” nos leva a isso, mas a expressão “dar à luz” leva para outro lugar.
O terceiro protótipo estabelece a comparação desejada, mas a frase está mal-formulada. A piada deve
sempre terminar na palavra-chave. Na piada original, as últimas palavras são “mijar um cocô”. Nesse
modelo, as últimas palavras são “urinado por um homem”. Ao inverter e colocar o cocô antes, a piada
não funciona. Quando a palavra-chave está no meio, ela gera um microssegundo de estranhamento na