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Segredos da comedia stand-up - Leo Lins marcado

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Quando falo com o público no meu show, tento mostrar que as pessoas com quem estou conversando

são privilegiadas por fazer parte do show. Quero que as demais pensem: “Poxa, espero que ele fale

comigo também”. Se você humilhar a primeira pessoa que pegou para interagir, ninguém mais da plateia

vai querer falar com você, e o restante vai pensar: “Ainda bem que não era eu, espero que ele não fale

com mais ninguém, e se falar comigo nem vou responder nada”.

Resumindo, para não agredir o público faça boas piadas e entregue-as de forma adequada. Nunca

ataque a plateia, deixe que algum deles faça isso primeiro, assim você tem licença para revidar. Ao

escolher uma pessoa para interagir, selecione alguém com potencial. Um sujeito que está de cara

amarrada e não ri de nada com certeza não é uma boa escolha. Pode ser que antes do show começar ele

tenha discutido com a esposa e agora não está mais no clima para um show de humor. Dificilmente ele

achará legal ser alvo de piadas. Salvo a exceção de um espectador mal-humorado ou idiota mesmo,

normalmente quando alguém se sente ofendido ao ser alvo da piada é porque ou ela não foi boa, ou não

foi entregue de forma adequada ou ainda foi uma agressão gratuita.

Stand-up é passageiro?

Não. A comédia stand-up já está consolidada como gênero no Brasil. E, assim como diversas formas

de arte, ele terá altos e baixos. Quando a maré está boa, atrai muitas pessoas, mas o período de seca

ajuda a separar o joio do trigo. Os comediantes bons permanecem e os demais abandonam. O período de

baixa não é ruim. Ele é necessário. Quando um gênero musical faz sucesso, ele é representado por

algumas bandas boas, mas o embalo do sucesso faz surgir muitos artistas medíocres. O período de baixa

atua como um processo de seleção natural em que só os melhores sobrevivem.

É difícil criar piadas diariamente?

Sim. Esse é o maior desafio na carreira de humorista, a renovação. Uma piada que faz o público

morrer de rir hoje pode não ter graça nenhuma amanhã. É muito difícil criar piadas que resistam ao

desgaste do tempo. Acredito que em todas as profissões é necessário se atualizar e estar atento às

mudanças, mas talvez a comédia seja uma em que este procedimento é essencial. De tempos em tempos o

humor sofre mudanças, as referências de piadas são outras, os temas abordados, a linguagem. Tivemos

uma época na qual falar que o português é burro era muito engraçado. Depois de anos esse conceito foi

banalizado e perdeu força cômica.

A linguagem no mundo está cada vez mais rápida e dinâmica. Na década de 1990, se uma pessoa

saísse de casa ela ficava incomunicável, pois ninguém tinha telefone celular. Hoje a maior parte da

população tem celular e acessa a internet. Um músico na Coreia do Sul pode se tornar sensação mundial

em poucos dias. A comédia stand-up é a forma mais condensada de humor e, por isso, um gênero

totalmente capacitado e habilitado para o mundo que vivemos. Se não está disposto a acompanhar essas

mudanças, sua carreira vai parar no tempo.

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