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Quando falo com o público no meu show, tento mostrar que as pessoas com quem estou conversando
são privilegiadas por fazer parte do show. Quero que as demais pensem: “Poxa, espero que ele fale
comigo também”. Se você humilhar a primeira pessoa que pegou para interagir, ninguém mais da plateia
vai querer falar com você, e o restante vai pensar: “Ainda bem que não era eu, espero que ele não fale
com mais ninguém, e se falar comigo nem vou responder nada”.
Resumindo, para não agredir o público faça boas piadas e entregue-as de forma adequada. Nunca
ataque a plateia, deixe que algum deles faça isso primeiro, assim você tem licença para revidar. Ao
escolher uma pessoa para interagir, selecione alguém com potencial. Um sujeito que está de cara
amarrada e não ri de nada com certeza não é uma boa escolha. Pode ser que antes do show começar ele
tenha discutido com a esposa e agora não está mais no clima para um show de humor. Dificilmente ele
achará legal ser alvo de piadas. Salvo a exceção de um espectador mal-humorado ou idiota mesmo,
normalmente quando alguém se sente ofendido ao ser alvo da piada é porque ou ela não foi boa, ou não
foi entregue de forma adequada ou ainda foi uma agressão gratuita.
Stand-up é passageiro?
Não. A comédia stand-up já está consolidada como gênero no Brasil. E, assim como diversas formas
de arte, ele terá altos e baixos. Quando a maré está boa, atrai muitas pessoas, mas o período de seca
ajuda a separar o joio do trigo. Os comediantes bons permanecem e os demais abandonam. O período de
baixa não é ruim. Ele é necessário. Quando um gênero musical faz sucesso, ele é representado por
algumas bandas boas, mas o embalo do sucesso faz surgir muitos artistas medíocres. O período de baixa
atua como um processo de seleção natural em que só os melhores sobrevivem.
É difícil criar piadas diariamente?
Sim. Esse é o maior desafio na carreira de humorista, a renovação. Uma piada que faz o público
morrer de rir hoje pode não ter graça nenhuma amanhã. É muito difícil criar piadas que resistam ao
desgaste do tempo. Acredito que em todas as profissões é necessário se atualizar e estar atento às
mudanças, mas talvez a comédia seja uma em que este procedimento é essencial. De tempos em tempos o
humor sofre mudanças, as referências de piadas são outras, os temas abordados, a linguagem. Tivemos
uma época na qual falar que o português é burro era muito engraçado. Depois de anos esse conceito foi
banalizado e perdeu força cômica.
A linguagem no mundo está cada vez mais rápida e dinâmica. Na década de 1990, se uma pessoa
saísse de casa ela ficava incomunicável, pois ninguém tinha telefone celular. Hoje a maior parte da
população tem celular e acessa a internet. Um músico na Coreia do Sul pode se tornar sensação mundial
em poucos dias. A comédia stand-up é a forma mais condensada de humor e, por isso, um gênero
totalmente capacitado e habilitado para o mundo que vivemos. Se não está disposto a acompanhar essas
mudanças, sua carreira vai parar no tempo.