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Segredos da comedia stand-up - Leo Lins marcado

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secretas possui determinadas piadas. Seja lá quando for e onde for, quem assistir a este show verá as

mesmas piadas. É claro que, ao longo dos anos, ele sofreu modificações, algumas piadas foram cortadas

e outras, acrescentadas, mas todas as mudanças foram feitas visando atingir um produto final que não

necessite de alterações.

Um show baseado na reunião das melhores piadas sofrerá mutações frequentes e esta aleatoriedade

pode causar problemas. Vamos supor que um espectador assista ao show Riso solto do comediante Y. No

ano seguinte, o comediante Y retorna à cidade, e o show tem várias piadas novas. Isso pode ser bom,

porém, se ele for uma terceira vez à cidade, o espectador que viu as duas primeiras vai esperar mais

piadas novas, do contrário, sairá desapontado. Ou pior, o comediante Y volta à cidade, mas dessa vez

com seu segundo show solo chamado Riso preso. Com esse padrão de seleção aleatória, há grandes

chances de piadas do primeiro solo se infiltrarem no segundo, decepcionando os fãs que viram o

primeiro show.

O show do Jerry Seinfeld, I’m telling you for the last time, contém as mesmas piadas

independentemente do local em que ele se apresenta. Kill the messenger, do Chris Rock, foi gravado em

três países diferentes, e é sempre o mesmo show. Se eu assistir a Dona Flor e seus dois maridos duas

vezes não posso reclamar que a peça foi igual e na segunda vez achar que o marido morto voltaria como

zumbi.

Esse é meu argumento contra a aleatoriedade de piadas em solos de stand-up. Mas, para ser imparcial,

vou apresentar o que dizem os advogados de defesa desse procedimento. Quantas vezes você se

apresentará em uma cidade viajando com seu show solo? Fora a cidade onde mora e em grandes capitais,

dificilmente um humorista retorna mais de três vezes a um teatro. E, dificilmente, um mesmo espectador

vai ao show todas as vezes. Portanto, a estatística está a favor dos comediantes que trocam as piadas em

seu show. Mas esse argumento pode cair por terra se imaginarmos um comediante que fica em cartaz em

uma cidade durante dois anos consecutivos. O contra-argumento para isso é: “Mas tem que ter muito

sucesso pra ficar em cartaz por tanto tempo”. Bem, acho melhor planejar seu trabalho pensando que pode

ficar em cartaz por dois anos e não que vai passar no máximo duas vezes em cada cidade.

Previsão do tempo

Um show solo deve ter no mínimo sessenta minutos. Acho que o público pode se sentir lesado em

pagar por um show que além de não ter custo com cenário, figurino, elenco, trilha sonora ainda demorar

menos de uma hora. A duração máxima deve ser em torno de uma hora e trinta minutos. Não estou

dizendo que não seja possível fazer uma apresentação mais longa que isso (eu mesmo já fiz), e sim que a

meu ver o ideal é ter no máximo esse tempo. Um show de duas horas pode ser muito bom, mas acho que

dificilmente após 120 minutos a plateia pedirá mais cinco minutinhos... Mas, após um show de setenta

minutos, eles adorariam esse bônus, e uma das regras mais velhas do show business é: deixe o público

querendo mais.

Quando o show for em grupo, ele pode resistir um pouco mais à plateia, é como se ganhasse um tempo

de bônus, pois tem mais variedade que um show solo. Quando um comediante sai do palco para a entrada

do próximo, é uma mudança mais brusca do que no show solo, quando o comediante termina as piadas de

relacionamento para iniciar as piadas de filmes. Oito comediantes realizando uma apresentação de duas

horas têm muito mais chance de deixar a plateia sedenta por mais alguns minutos do que um único

comediante se apresentando pelo mesmo tempo.

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