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de imprimir a prova. Além disso, ela mostra que meu trabalho foi além de simplesmente pensar nas
piadas. Separei as questões e imprimi uma prova de matemática para levar ao show e comentar. Já houve
ocasiões em que não levei a prova. A primeira vez que isso aconteceu, peguei uma folha qualquer com
frases impressas e na hora do show fingi que estava lendo as questões da prova.
O comediante Henrique Fedorowicz tem um texto em que analisa um manual para realizar exame de
urina.
‘Item 5 – A urina não poderá ser congelada.’ Ah, porque é muito normal... ‘Ihh, mijei... Agora vou
fazer gelinho!’ (Henrique Fedorowicz)
Ele poderia fazer todas as piadas sem a presença do manual, entretanto o papel dá mais credibilidade.
Ele não inventou que a urina não pode ser congelada, isso realmente está escrito.
Acho que a restrição de acessórios foi importante durante o estabelecimento do gênero stand-up no
Brasil. Mas essa fase de implantação já foi superada, diversos comediantes utilizam violão em seus
shows: Fabiano Cambota, Murilo Couto, Marcelo Marrom. Patrick Maia toca uma gaita, Rodrigo
Cáceres usa uma peruca. Não é por isso que a apresentação deixa de ser um stand-up — o texto é mais
importante para determinar o gênero. Portanto, não se limite quanto ao uso de um acessório, pode ser que
você descubra um grande diferencial por meio dele.
Truques para valorizar o show
Foi muito bom fazer o lance do “bônus”. Posso deixar isso na maioria dos shows.
Há alguns anos, lendo um dos livros da trilogia de Dariel Fitzkee sobre mágica, lembro-me de um
trecho em que o autor disse ter ido assistir a um show na Broadway e o artista da noite elogiou o público
por estar caloroso e, após encerrar o show, voltou ao palco e tocou mais músicas. Após encerrar
novamente, deu-lhes mais um bônus, que no fim das contas acrescentou vinte minutos ao show. Ao assistir
a apresentação em outra ocasião, ele viu que o artista fez a mesma coisa, ou seja, o final do show na
verdade não era o final. O bônus de vinte minutos era uma parte pensada e estruturada para fazer com que
o público se sentisse especial por ser agraciado com músicas que, aparentemente, nem estavam no
repertório. Uma vez estava em um show do Jorge Ben Jor no Morro da Urca e um espectador falou: “O
show dele é muito bom, a vez que eu fui ele se empolgou e chamou várias meninas pra subir no palco... O
cara agita a galera”. Adivinhem o que ele fez nesse show que eu estava? Chamou as várias meninas para
subir ao palco.
A função do artista é entreter seu público, manobras como essa aumentam o teor de entretenimento do
show. Adotei essa conduta no meu show Piadas secretas. Quando ainda faltam cerca de dez minutos para
acabar, após terminar uma piada, eu falo: “Pessoal, estamos chegando no final... vocês são uma plateia
foda...”. Quando continuo o show após a plateia pensar que ia acabar, eles devem achar que vou fazer
mais dois, três, no máximo cinco minutos... Quando recebem mais dez ou 15 minutos, essa expectativa é
positivamente superada, assim espero.
Minha motivação para falar que a plateia está ótima é pedir um favor para eles, que na verdade é outro
artifício adotado para tornar única a experiência do show. Certa vez, estreei umas piadas no solo e antes
de testá-las eu disse: “Vocês são uma plateia muito boa. Inclusive... eu tenho umas piadas novas aqui,
nunca contei. Vocês se incomodam se eu testar com vocês?... Ótimo. Sempre falam pra testar piadas com