21.01.2023 Views

Segredos da comedia stand-up - Leo Lins marcado

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sentimento de querer contar para os familiares ou amigos que você se saiu bem em um concurso, que foi

promovido no trabalho ou que vai se casar? Esse é o sentimento que deve ter no palco. Você tem que

contar as piadas porque o público precisa ouvir isso que você pensou, é algo tão bom que não pode

guardar apenas para si e não porque depois do show o cachê cairá na sua conta.

No show do grupo Comédia em Pé, havia um texto-padrão de abertura do espetáculo que apresentava o

que é e como seria o show: comediantes se revezando no palco, contando piadas autorais sobre diversos

assuntos. Veja uma parte do texto:

Antes de começar vou fazer uma pesquisa. Quem aqui já viu o Comédia em Pé?... E quem está

vindo pela primeira vez?... São as outras pessoas, sua besta. Mas eu reparei que teve gente que não

levantou a mão nem pra uma coisa nem pra outra. Estão na dúvida: ‘Será que eu vim?’, ‘Será que

eu não vim?’... ‘Será que YouTube também conta?!’. Ou então é preguiça: ‘Porra, essa merda

interativa’.

Comédia em Pé não é interativo, Comédia em Pé é comédia... E em pé. Mas tem sempre um

engraçadinho que chega na bilheteria e pergunta: ‘É Comédia em Pé? Mas tem lugar sentado,

ahhhhh’... Tem. E tem piadas melhores também. E pra se apresentar aqui no Comédia em Pé cada

comediante tem que seguir algumas regras: ele escreve o seu próprio texto, não pode fazer

personagem, não pode fazer piadas conhecidas, não pode usar cenário, adereço, figurino, trilha

sonora, não pode nada. É um humor franciscano, humor de raiz e por isso é difícil. Então eu vou

pedir a colaboração de vocês. A parte de vocês é: rir. Então quando vocês perceberem que o

comediante tá aqui, que ele tá falando, assim que ele der uma pausinha: ria. Porque a pausinha é a

indicação de que ali seria uma piada. Vamos fazer um treino pra ver se vocês pegaram: eu tô

falando, falando, falando, parei. [Risos forçados da plateia] Foi bem espontâneo.

Eu peço isso, porque às vezes a piada não tem graça, mas a risada do coleguinha do lado é

divertida. A gente tá fazendo isso há um tempo e foi catalogando os tipos de risada, tem a risada

asmática [...] (Claudio Torres Gonzaga)

Imagine realizar cinco a dez shows por semana, ao longo de três anos. Quantas vezes esse texto não foi

repetido! Nas primeiras vezes que diz o texto o comediante fica atento, para não se perder, explorar o

máximo de cada piada e avaliar como elas estão se saindo. Na septingentésima nona vez, enquanto diz

esse texto, está pensando nas piadas que vai fazer depois dele, pois está tão familiarizado que pode

deixar a execução das piadas no piloto automático. É como se as cordas vocais tocassem um playback,

dublado pela boca. Essa automatização pode reduzir o impacto de algumas piadas.

Com o tempo, outro desafio que você vai ter é fazer piadas antigas com a mesma intensidade e vontade com que as fez pelas primeiras

vezes. Em alguns momentos estou mais recitando o texto do que realmente “vivendo-o”.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!