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“Quem chega lá”
Entrei em apenas um concurso de humor, o primeiro “Quem chega lá”, realizado em 2008 no
Domingão do Faustão. Na época tinha cerca de dois anos e meio de carreira e nunca tinha ido à TV em
rede nacional. Não tinha nada a perder. Na pior das hipóteses voltaria para o bar onde estava me
apresentando e seguiria com os shows.
Esse concurso tem uma história curiosa. Em 2007 a Rede Globo já havia pensado em aproveitar os
novos nomes do humor que estavam aparecendo por meio da comédia stand-up. Certo dia um amigo meu,
Fábio Silvestre, conseguiu um contato na emissora e soube que estavam pedindo material de humoristas.
Fiz um DVD com trechos de show e enviei para a Rede Globo. Mais de um ano depois tocou meu
telefone e era a produção do Faustão perguntando se eu teria interesse em participar de um concurso de
stand-up. Fiquei nervoso e eufórico quando atendi ao telefone, ao mesmo tempo que estava preocupado
em aceitar, sabia que era uma oportunidade inegável.
Cerca de um mês após o telefonema o concurso teve início. O que nenhum telespectador sabia, e na
época nós competidores também não, é que a competição começou em caráter experimental, assim como
muitos quadros de televisão. Pelo que fiquei sabendo, o próprio Faustão não estava muito a favor de
levar humoristas desconhecidos em um programa ao vivo, correndo o risco de falarem alguma besteira
para todo o Brasil. Como o futuro do concurso era obscuro, nunca divulgaram um prêmio nem como
seriam as outras etapas. Caso o quadro não desse certo ele seria encerrado e substituído por outra
atração, assim como ocorreu com o “Jogo da comédia” em 2012.
Na primeira semana apenas um de quatro humoristas atingiu o objetivo do concurso: fazer um aparelho
que teoricamente media as risadas da plateia atingir o seu nível máximo por quatro vezes. Na segunda
semana apenas dois e na terceira semana apenas eu... O quadro estava sendo um sucesso no Ibope e, por
isso, a direção resolveu estendê-lo. Para isso precisariam de mais comediantes, o que acarretou
mudanças na competição. A ideia inicial era um concurso de stand-up, mas não havia tantos humoristas
para participar e antes mesmo de iniciar decidiram incluir os personagens. Quando viram que seria
necessário estender, abriram espaço para contadores de piada. Dessa forma só com cearenses seria
possível fazer o quadro durar um ano sem repetir humoristas.
Outro problema é que não poderia apenas um ou dois competidores se classificarem a cada semana, e,
a partir da quinta semana, pelo menos três de cada quatro competidores estavam superando o tal
risômetro. Ou seja, alguém que foi reprovado na segunda semana provavelmente seria aprovado um mês
depois contando as mesmas piadas.
Todos os humoristas classificados (e que “coincidentemente” foi um número divisível por quatro para
que na próxima etapa continuassem quatro participantes por domingo) foram supostamente aprovados
para a final. Como o quadro já estava tendo o maior Ibope do programa, não poderia ter um ganhador tão
cedo, e resolveram estender ainda mais. Os vencedores dessa etapa final foram classificados para
adivinha o quê? Outra etapa final. E depois foram para mais uma final. E, no fim de tudo isso, o grande
vencedor ganhou o incrível prêmio de um troféu.
No meio disso, um amigo meu que foi eliminado passou por uma repescagem feita única e
exclusivamente para ele voltar para o quadro, mas claro que isso não foi divulgado. Como eu disse,
justiça não é algo muito comum em concursos. Por isso repito, pondere os prós e contras antes de entrar
em uma competição. Para mim valeu muito a pena, tive minhas primeiras experiências na TV, fiquei
participando de um programa com grande audiência durante alguns meses, fechei alguns eventos,
consegui vencer o risômetro nas três vezes que fui e perdi apenas em votos na internet para o ganhador do
concurso. Um saldo extremamente positivo.