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O campeonato terminou, o ano virou, e, quando voltei a contar essa piada, vi que perdeu força. Mas
bastou ajustar o setup, e ela voltou a funcionar. Passei a incluir a seguinte frase na piada: “O Rubinho
uma vez terminou o campeonato sem marcar ponto! Se você chegar em sexto já marca, mas nem isso ele
fez. Aí, antes da última corrida, teve uma entrevista com Galvão Bueno, e o Galvão fez uma pergunta
muito FDP pro Rubinho...”. Isso deixou o setup mais claro, pois o fato que sustentava a piada havia sido
esquecido pelo povo, então era necessário relembrar. Meses depois abandonei a piada, pois percebi que
não devia contar algo baseado em um fato de anos antes. Já vi humoristas contando piadas sobre
acontecimentos de quatro, cinco anos atrás. Não acho que seja bom ter um set sobre a morte da Dercy
Gonçalves e o impeachment do Fernando Collor de Mello. Alguns comediantes param no tempo e
precisam relembrar fatos antes de cada piada que contam: Lembram do primeiro filme do Rambo?
Lembram dos anúncios da Polishop com fitas VHS? Lembram do Lango Lango? Aqueles bonecos de
pano, tipo fantoche... eles davam soco.
A exceção a essa regra é quando o fato não é tão popular. Em 2008 vi uma notícia que dizia que a
China queria mandar uma nave para a Lua e fiz umas piadas sobre isso... Até hoje os chineses não
mandaram a tal nave, portanto, conto a piada como se tivesse acabado de ver a notícia. No dia que eles
chegarem à Lua vou editar ou abandonar a piada. Li uma outra em que um cidadão estava à procura de um
padre para fazer a cerimônia de casamento dele com um Playstation 2. Assim que saiu o Playstation 3,
tomei a liberdade de atualizar a tecnologia da noiva. Perceba que essa mudança não aumentou o setup.
Assim, concluo que todas as piadas devem aparentar ser o mais frescas possível. Quando o setup
começa a precisar de alterações para que o punch line continue eficaz é porque o prazo de validade da
piada já está quase vencendo, portanto, não demore a jogá-la fora.
Porta-voz
Ao interagir, deixe todos cientes do que acontece. Ontem fiz uma piada da qual poucas pessoas
riram. Perguntei o nome de um cara e ele falou “Cleber”. Eu repeti: “Cleber”. E ele falou: “Mas me
chamam de Clebinho”. Então perguntei: “Por causa do tamanho?”. Quem ouviu o diálogo todo riu,
mas quem estava longe ouviu apenas:
Comediante: “Qual seu nome?”.
Espectador:
Comediante: “Cleber?”.
Espectador:
Comediante: “Por causa do tamanho?”.
Ou seja, perderam o setup: “Mas me chamam de Clebinho”.
Conforme visto anteriormente, algumas piadas do momento podem ser feitas ao interagir com a plateia.
Durante essa conversa o comediante deve ser porta-voz do espectador. Isso pode parecer óbvio, mas já
vi diversos humoristas, inclusive eu, caírem no erro de não repetir as respostas da plateia, o que causa o
problema exibido na anotação introdutória. O comediante tem a seu favor o microfone, o espectador tem
apenas as cordas vocais. Salvo a exceção de estar interagindo com um cantor de ópera, ou seja, alguém
cuja potência vocal preenche o ambiente, você deve repetir as respostas da plateia tornando-as audíveis
para todos.
Não repetir as falas do espectador quando estiver interagindo pode restringir o show a quem está próximo desse espectador. Sendo
assim, ao mesmo tempo em que você envolve algumas pessoas por meio de interação, exclui outras por causa da interação.