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Vi um site na internet incentivando a canetofilia, que é você colecionar canetas. O que eu acho
muito idiota... por um motivo estranho, mas acho que vocês vão concordar comigo. Eu acho idiota
colecionar canetas, porque a caneta é o único objeto que se coleciona sozinho. Pode ver, você
compra um pote, coloca uma, UMA caneta lá dentro. Dali a uma semana tem oito... depois 15, 37...
Elas vão se reunindo... E o ser humano tem uma coisa, a gente não consegue se livrar de canetas...
Você escreve, não tá funcionando, coloca de volta no pote... [pega outra] não tá funcionando,
coloca de volta no pote... Você pode tentar jogar fora, a sua mão vooolta e... coloca de volta no
pote. Eu acho que inconscientemente a gente sabe que se joga uma caneta no lixo ela vai sair e
voltar pro pote. (Léo Lins)
Essa piada faz parte de um set sobre canetas, lápis e outros objetos de escrita. Já as contei tanto em
bares quanto em teatros e, apesar de funcionar nos dois ambientes, as maiores reações vieram no teatro.
Não é difícil entender por que um público que se arrumou para ir ao teatro vai apreciar mais essas piadas
do que três empresários que resolveram, após a reunião de trabalho, ir ao bar beber e dar umas risadas.
Uma das ferramentas para captar a atenção de uma pessoa é algo chamado “interesse inerente”. Imagine
duas capas de revistas femininas. Em uma delas está escrito: “Dez exercícios para definir o bumbum”. A
segunda tem: “Dez dicas para reaproveitar pilhas velhas”. Qual delas venderá mais? E qual assunto
despertará o interesse inerente dos empresários alcoolizados: por que aparecem canetas em um pote ou
as etapas entre conhecer uma mulher e levá-la para o motel?
Vamos para mais um exemplo:
Nessas férias eu fui pra Londres. Lá de cima já deu pra ver tudo coberto de neve... Tava muito frio,
muito frio. Primeira noite, -7 graus... Eu fui ao banheiro mijar, pensei: ‘Meu pinto ficou no Brasil...
ele não embarcou...’. Fiquei procurando, depois achei... Ele se escondeu dentro do saco... (Léo
Lins)
Essa piada é baseada num simples fato: o pênis encolhe no frio. Ela tem força, pois o punch line está
bem trabalhado. Se a piada fosse:
Nessas férias eu fui pra Londres. Lá de cima já deu pra ver tudo coberto de neve... Tava muito
frio, muito frio. Primeira noite, -7 graus... Eu fui ao banheiro mijar e não achei meu pinto.
Essa é uma variação simplista, que poderia arrancar mais reação no bar do que no teatro. Já a primeira
piada pode ter a mesma força, independentemente do local. O punch line “Meu pinto ficou no Brasil...
ele não embarcou”, é mais engraçado do que “não achei meu pinto”. O exagero do primeiro punch é
maior. Na segunda, o pênis encolheu tanto que sumiu. Na primeira também subentende-se que o pênis
sumiu, mas porque ficou no Brasil para escapar do frio europeu. E na piada original ainda tem mais um
punch: “Ele se escondeu dentro do saco...”.
Perceba que o fato de a piada ser sobre órgãos sexuais ou motel não determina que ela seja mais forte
no bar.