01.06.2014 Views

animais são muito mais que algo somente - Proppi - UFF

animais são muito mais que algo somente - Proppi - UFF

animais são muito mais que algo somente - Proppi - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

parentesco com o animal”, potencialidade <strong>que</strong>, no entanto, não se deve atualizar. Da<br />

análise sobre o parentesco o autor conclui <strong>que</strong> categorias como afinidadade e<br />

consanguinidade são variáveis conforme cada contexto; é a proximidade ou a distância <strong>que</strong><br />

atualizam essas categorias. Ao abordar o –jepota como uma possibilidade de afastamento<br />

do convívio de parentes, entendidos aqui a partir do viés da consubstancialidade, para se<br />

estabelecer o parentesco com o outro, Silva propõe <strong>que</strong> a desmarcação da diferença é um<br />

processo <strong>que</strong> não engloba <strong>somente</strong> pessoas mbya e <strong>ani<strong>mais</strong></strong>, pois como o próprio autor<br />

afirma “a aproximação de uma pessoa com outras pessoas com mesma identidade física e<br />

maneira de viver distintos [jurua, Kaingang] pode romper seus vínculos com seus parentes<br />

de origem”.<br />

Da mesma forma <strong>que</strong> os de<strong>mais</strong> autores, para Pissolato o –jepota pode ser<br />

desencadeado a partir de três possibilidades: um evento tipicamente associado à idéia de<br />

uma união sexual com outra espécie, passando-se da condição de humano à de ser<br />

pertencente a alguma espécie animal; segundo, <strong>que</strong> pessoas dadas como mortas deixem a<br />

cova e se transformem em onça, as quais devem ser novamente mortas pelos homens; e<br />

finalmente pelo preparo e consumo de carne no mato.<br />

Diferente dos autores anteriormente citados, Pissolato (2007) afirma <strong>que</strong> no <strong>que</strong> se<br />

refere ao parentesco os Mbya não partilham de noções comuns a outros grupos amazônicos<br />

como consubstancialidade ou cognatização de afins. Para a autora a convivência entre afins<br />

não apaga a distinção afim-consanguíneo; no entanto, propõe <strong>que</strong> a consanguinidade seja<br />

um paradigma para as relações entre afins.<br />

Enquanto fazia artesanato junto com uma mulher já idosa, Lídia Para,<br />

conversavamos a respeito da convivência junto de parentes. Ela dizia <strong>que</strong> “bom mesmo era<br />

morar perto de parentes”, ao mesmo tempo lamentava o fato de não tê-los na aldeia. Fiz<br />

referência aos seus filhos; ela apenas me fitou, na sequência perguntei: “e Jaxuka, não é<br />

sua parenta?” A mulher fitou-me novamente e respondeu: “se ela é minha nora, como pode<br />

ser meu parente?” “Parente não presta para casar” é uma afirmação <strong>muito</strong> comum nas<br />

aldeias.<br />

Diante de tal resposta é possível saber como me posiciono nesse debate acerca das<br />

relações de parentesco entre os Mbya. Mas há um segundo ponto <strong>que</strong> tem sido colocado<br />

pelos guaraniólogos <strong>que</strong> parece <strong>mais</strong> interessante. Propõem <strong>que</strong> seria o compartilhamento<br />

de substâncias tais como alimento ou sangue <strong>que</strong> conduziriam a um aparentamento com<br />

espécies outras e conse<strong>que</strong>ntemente a transformação em membro de outra espécie.<br />

109

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!