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animais são muito mais que algo somente - Proppi - UFF

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adultério está diretamente relacionado aos estados de insatisfação da criança e seu desejo<br />

de não permanecer nesta terra 33 . Os Mbya compartilham uma concepção patrifocalizada do<br />

feto, pois quando as pessoas me diziam <strong>que</strong> homens jovens não deviam comer carne de<br />

anguja guaxu – pois este roedor tem a pele <strong>muito</strong> fina – faziam referência imediata ao fato<br />

de ser o pai <strong>que</strong>m “faz” o filho através do sêmem. No entanto, não é necessário <strong>que</strong> essas<br />

inseminações sejam múltiplas, <strong>que</strong> um casal tenha estado junto uma única vez é suficiente.<br />

Não há um consenso entre os pesquisadores dos Guarani acerca da <strong>que</strong>stão da<br />

filiação. Schaden (1962: 88) afirmou existir entre os Nhandeva uma concepção paralela da<br />

filiação, as meninas sendo consideradas filhas da mãe e os meninos filhos do pai. Tal<br />

concepção é distinta da observada por Silva (2007: 90) recentemente entre os Mbya e<br />

Nhandeva na região da tríplice fronteira. Segundo este autor, é o sêmen paterno <strong>que</strong> dá<br />

forma ao corpo da criança através de inúmeras relações sexuais. Silva sugere <strong>que</strong> esse<br />

processo de fabricação do corpo é <strong>que</strong> torna a criança consubstancial ao pai: “é o sêmen<br />

<strong>que</strong> dá forma ao corpo, lhe dá o aspecto humano [...]” (idem: 91). O útero (mbaeru mitaï)<br />

é, por sua vez, um recipiente onde o corpo da criança será nutrido, o alimento consumido<br />

pela mãe se transforma em sangue <strong>que</strong> alimenta a criança, lhe faz crescer. A<br />

comensalidade transformará gradualmente mãe e filho em consubstanciais.<br />

A <strong>que</strong>stão do adultério não constitui um problema para o autor; diferente do <strong>que</strong><br />

constatou Pissolato (2007) a respeito dos estados de satisfação da criança. Silva afirma <strong>que</strong><br />

o pai será a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> durante a gravidez tenha contribuído com oferta maior de sêmen, no<br />

entanto, essa hipótese parece um pouco frágil; pois os Mbya são <strong>muito</strong> precisos em apontar<br />

as relaçoes genealógicas de uma pessoa; por exemplo, xeru anga é o termo pelo qual uma<br />

pessoa se refere ao marido de sua mãe; no entanto essas classificação não apaga os laços<br />

<strong>que</strong> a liga a seu pai biológico (xeru) 34 . Conforme destacou Pissolato (2007), a paternidade<br />

de uma criança nunca lhe é omitida.<br />

Paralelamente ao desejo de encontrar um cônjuge, é a busca da<strong>que</strong>les com <strong>que</strong>m<br />

possuem um laço de consanguinidade (muitas vezes o pai) <strong>que</strong> lança as pessoas, ainda<br />

jovens, em suas primeiras caminhadas.<br />

O período da gravidez exige outros cuidados por parte dos pais; durante esse<br />

período convém <strong>que</strong> o uso de colares, principalmente nos últimos meses de gestação, seja<br />

33 Cadogan afirmou <strong>que</strong> entre os Mbya existia a proibição divina de cometer adultério, tanto para o pai<br />

quanto para a mãe (Cadogan, 1970: 97).<br />

34 Quando um homem se casa com uma mulher <strong>que</strong> esteja grávida e essa convivência se prolonga, ele será<br />

tratado pela / o filha / o dessa mulher, por xeru anga. O cônjuge da enteada de tal homem o tratará por sogro,<br />

o mesmo tratamento poderá ser extendido ao pai desta mulher caso um futuro contexo o favoreça.<br />

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