animais são muito mais que algo somente - Proppi - UFF
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cálculo estratégico de apoio mútuo entre a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> ora se acham ligados por relações de<br />
afinidade.<br />
Como já foi salientado por outros autores, (Viveiros de Castro 1986, Pissolato<br />
2007) não é possível falar entre os Tupi-Guarani de uma forma geral e os Mbya,<br />
especificamente em regras mecânicas de residência. O <strong>que</strong> há, entre os Mbya,<br />
principalmente no <strong>que</strong> se refere aos casais <strong>mais</strong> jovens, é uma alternância entre um desejo<br />
de ora residir junto à família dos pais da moça, ora, à dos pais do rapaz. Alternância essa<br />
marcada pela possibilidade de viver bem, seja próximo a uns ou a outros.<br />
Inúmeras são as razões <strong>que</strong> contribuem para <strong>que</strong> os casais alternem o local de<br />
moradia entre as aldeias dos pais dos cônjuges, e isso em diversas fases da vida. O<br />
exemplo de Jango e Tereza <strong>que</strong> vieram a morar novamente com os pais desta <strong>somente</strong> após<br />
a morte do pai de Jango, ocorrida em 2003, em Palmeirinha no Paraná é ilustrativo e se<br />
conjuga com a fala de Augustinho apresentada no final da introdução deste trabalho (ver p.<br />
43-44). Nos anos oitenta Jango viveu por certo tempo junto ao seu sogro, tanto no Itariri<br />
quanto no Espírito Santo, onde nasceu seu filho Geferson; ao longo dos anos essa<br />
convivência se alterou por várias vezes. O próprio grupo doméstico 13 de Jango reunia,<br />
durante meu trabalho de campo, ele com sua esposa, a mãe e o irmão <strong>mais</strong> novo de Jango;<br />
sua filha, Elizéia, casada e os três filhos; e o filho Geferson, recém-casado, <strong>que</strong> trouxera<br />
sua esposa de Ribeirão Silveira, uma aldeia próxima a Bertioga no estado de São Paulo.<br />
Todavia, essa configuração é fluida e, ao longo de quatro anos de convivência com<br />
os Mbya, diversas vezes vi Luciano e Elizéia partirem para Jaraguá no estado de São<br />
Paulo, onde moram os pais de Luciano, ou de lá chegarem. Os motivos? Diversos...<br />
Possibilidade de trabalho, tratamento de crianças por um determinado xamã, desejo de<br />
estar perto de certos parentes, ou mesmo conflitos irrompidos...<br />
Em certa ocasião uma mulher me dizia <strong>que</strong> não gostava de morar com sua sogra,<br />
pois essa maltratava os netos e a ela. Afirmava <strong>que</strong> sua sogra era uma pessoa brava,<br />
diferente de sua mãe, <strong>que</strong> nunca maltratou seu marido.<br />
Outro exemplo ilustrará esse desejo de viver bem numa ou noutra aldeia. Certa<br />
noite estava na opy’i quando um rapaz sentou-se junto a mim para saber se seu tinha uma<br />
posição quanto ao retorno dele a Sapukai, aldeia localizada próximo do município de<br />
13 Para o caso Mbya, em <strong>que</strong> não há regras mecânicas de residência, quiçá uma tendência à uxorilocalidade, é<br />
possível definir os grupos domésticos através da articulação de um homem e seus genros ou de uma mulher e<br />
suas noras. Mais <strong>que</strong> unidades criadas em função da ocupação do espaço, são unidades relacionais. Embora<br />
possam morar a certa distância um do outro, é a seus afins <strong>que</strong> um homem recorrerá para realizar certos<br />
trabalhos.<br />
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