animais são muito mais que algo somente - Proppi - UFF
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Com seus feixes de kaa à mão, os homens seguem em fila indiana, desde os <strong>mais</strong><br />
velhos (tuja Kuery), até às crianças (kyrïgue). O xamã se posiciona próximo ao amba’i,<br />
enquanto os homens em círculo caminham pela opy’i. À frente, um homem toca o<br />
Mbaraka (violão); algumas mulheres, as únicas presentes nesse momento, se colocam uma<br />
ao lado da outra, um pouco <strong>mais</strong> afastadas, com seus takuapu 29 para acompanhar os cantos.<br />
Decorridos alguns instantes, o cantor se afasta e cada homem dirige-se ao xamã para<br />
depositar no amba’i seu feixe de erva e dizer a <strong>que</strong>m se destina cada um: “xe vypy” (este é<br />
para mim) e “xerentarã py” (este é para meu parente)... ou a <strong>que</strong>m <strong>mais</strong> <strong>que</strong>iram oferecer.<br />
Após pendurá-los agradece e torna a se sentar. Diferentemente do <strong>que</strong> ocorre com o mel e<br />
o mbojape, essa é uma fase exclusivamente masculina.<br />
Após todos tê-lo feito, os homens pegam seus petỹgua e dirigem-se novamente ao<br />
amba’i para incensarem as ervas penduradas. Seguem-se outros agradecimentos. Após<br />
todos repetirem este gesto, sentam-se para <strong>que</strong> o xamã faça o mesmo. Findo o gesto do<br />
xamã, ele se volta para todos e exorta a importância do <strong>que</strong> se faz ali, principalmente a<br />
virtude de trazer saúde e força para todos. Em seguida deixam a opy’i.<br />
Ao cair da noite todos retornam. Os homens seguem até o amba’i para novamente<br />
incensarem com a fumaça de seus petỹgua a erva. Um banco é colocado no centro da opy<br />
para <strong>que</strong> as mulheres <strong>que</strong> trouxeram suas crianças para serem nomeadas sentem-se com<br />
elas. O xamã coloca-se diante de cada uma para proceder a descoberta dos nomes. É um<br />
trabalho longo; por cerca de uma hora e meia, ele examina cada uma, é preciso descobrir a<br />
origem de sua alma e conseqüentemente de seu nome (nheë e –ery). No entanto, não será<br />
nesta noite <strong>que</strong> os nomes serão anunciados. Os nomes Mbya provêem unicamente dos<br />
seres <strong>que</strong> enviam almas (nhe’ë) à terra; diferentemente de outros povos tupi-guarani, entre<br />
os Mbya não se obtêm nomes de mortos, inimigos ou <strong>ani<strong>mais</strong></strong>.<br />
Começam em seguida os cantos-dança-reza, os quais são vocais, porém sem letra,<br />
um rapaz denominado yvyraija toma do mbaraka e por longo tempo segue cantando,<br />
sempre voltado para o leste, para a frente da opy’i. Outro rapaz pega o mbaraka mirim<br />
(chocalho) e o acompanha, seguido pelos de<strong>mais</strong> homens; todos de mãos dadas, também<br />
voltados para o leste. Um pouco <strong>mais</strong> atrás, as mulheres com seus takuapu marcam,<br />
juntamente com os mbaraka mirim, o ritmo do canto-dança. Um canto longo <strong>que</strong> se inicia<br />
com um ritmo lento e <strong>que</strong> aos poucos vai aumentando. A certa altura, a despeito da<br />
29 Trata-se de um bastão feito de taquara, com cerca de um metro de comprimento, vazado em uma das<br />
extremidades, <strong>que</strong> batido contra o solo produz um som grave.<br />
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