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animais são muito mais que algo somente - Proppi - UFF

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Em outras regiões tais conflitos também são ora <strong>mais</strong>, ora menos ostensivos,<br />

podendo inclusive passar da agressão física à agressão xamânica e vice-versa. Mello<br />

(2006) nos apresenta o desenrolar de um conflito <strong>que</strong> explode em Caci<strong>que</strong> Doble, RS, onde<br />

os Guarani vivenciavam, segundo a autora, uma “situação insuportável devido a uma série<br />

de imposições arbitrárias, com relação à ocupação e uso da terra, por parte dos Kaingang.<br />

Neste contexto, eram recorrentes as brigas físicas, mortes e restrição cada vez maior do<br />

espaço agricultável 11 ”. Novamente o comportamento violento dos Kaingang é posto em<br />

evidência: sa<strong>que</strong>s às roças, restrição de recursos aos Guarani e proibição de visitas.<br />

Somam-se a isso as acusações de feitiçaria <strong>que</strong> culminaram na morte de uma pessoa e no<br />

incêndio de uma casa durante o funeral. Seguindo orientações de um xamã, <strong>que</strong> já velho se<br />

dizia enfra<strong>que</strong>cido para proteger seu grupo, argumento capaz de lhes persuadir da<br />

imperiosidade de se buscar um lugar melhor, teve início uma caminhada <strong>que</strong> deslocou a<br />

aldeia inteira 12 .<br />

Diversas razões foram apontadas pelos estudiosos para explicar o movimento<br />

migratório dos Guarani em direção ao litoral. As grandes migrações ocorridas no século<br />

XIX e outras <strong>mais</strong> espaçadas <strong>que</strong> ocorreram até a metade do século XX tinham como força<br />

motriz a busca da terra sem mal (yvy marã eỹ) localizada a leste, além do oceano, no<br />

aparente encontro do céu com o mar (Nimuendaju [1914] 1987, Schaden 1962). Este<br />

motivo foi retomado por outros autores (Clastres, 1978; Ladeira, 1992; Ladeira 2001). Por<br />

outro lado, alguns estudos <strong>mais</strong> recentes privilegiam para a análise de tais migrações temas<br />

relativos ao parentesco e ao xamanismo (Mello, 2006; Pissolato, 2007). Essas duas formas<br />

de abordagens no entanto, se distinguem quanto às unidades sociais a <strong>que</strong> se referem; no<br />

primeiro caso o foco são as migrações de aldeias inteiras conduzidas por xamãs <strong>que</strong> se<br />

propunham a guiá-las até alcançar as venturas da terra sem mal. No segundo, o foco se<br />

concentra nas mobilidades de unidades menores, sejam elas famílias ou indivíduos, <strong>que</strong> por<br />

razões as <strong>mais</strong> diversas se deslocam por este vasto território guarani <strong>que</strong>, como propôs<br />

Ladeira (2001), apesar de descontínuo é coeso.<br />

11 De acordo com a autora os Guarani ocupavam uma área de 10 ha, numa T.I. de quase 5000 ha (Mello,<br />

2006: 56).<br />

12 Diversas são as formas <strong>que</strong> os Mbya usam para desdenhar os Kaingang: dizem <strong>que</strong> eles não sabem se<br />

expressar diante dos jurua, empregando <strong>muito</strong> mal a língua destes, assim os Kaingang dizem: “Pato<br />

piazadinho”: para se referir a filhotes de pato (piazadinho vem de piá, forma de se referir as crianças no<br />

Paraná); filhote de milho: para se referir ao milho quando esta brotando; pensamento de boi: é a maneira<br />

como os Kaingang se referiam o cérebro bovino quando iam ao açougue para comprá-lo; “pra traz da<br />

galinha”, para se referir à carcaça; es<strong>que</strong>leto de peixe para se referir à espinha.<br />

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