Trajetória solar durante ara yma Ara pyau inicia-se por volta de agosto, período <strong>que</strong> o sol, aparentemente, descreve uma trajetória central na esfera celeste. As temperaturas começam a subir e em breve virão as águas. Diferente de ara yma, ara pyau é o período em <strong>que</strong> os <strong>ani<strong>mais</strong></strong>, além de estarem magros, estão se reproduzindo ou amamentando, de modo <strong>que</strong> a atividade de caça deve ser suspensa. Em contrapartida, as pessoas estão nas roças; os principais cultivos são: a mandioca (mandio), plantada em agosto; o milho (avaxi), entre agosto e setembro; o feijão 42
(kumanda) e a batata-doce (jety) em setembro. As colheitas iniciam-se por volta de novembro e dezembro, no primeiro caso o feijão; no segundo, o milho. A batata doce e a mandioca serão colhidas ao longo do ano. Quanto às atividades xamânicas, é um período de intensa atividade. Diziam as pessoas: xeramõi karai ombaiapo vaipa: oendu, opita, omõe’ry kyringue “os xamãs trabalham bastante, escutam, pitam no cachimbo (petỹgua), dão nomes às crianças.” Segundo Nimuendaju ([1914] 1987: 75), havia entre os Apapokuva quatro classes de pajés e, destes, “apenas a<strong>que</strong>les pertencentes à quarta categoria – composta <strong>somente</strong> por homens – poderiam conduzir a festa do ñemongarai”, realizada sempre após a colheita do milho verde, entre os meses de janeiro e março. Atualmente, é no mês de janeiro <strong>que</strong> acontece o nimongarai, <strong>que</strong> deve ser conduzido por um xamã. Não é possível afirmar <strong>que</strong> haja uma razão exclusiva para realizá-la. Das vezes <strong>que</strong> participei dessa cerimônia pude verificar <strong>que</strong> três tipos de alimento estavam associados à sua celebração, os quais eram também destacados pelas pessoas: o milho verde é colhido e consumido no mês de dezembro. Do milho duro, uma perte será transformada em um pe<strong>que</strong>no bolo (mbojape), enquanto a outra será levada à opy’i, ou colocada sobre os fogos das caasas, aí permanecendo até <strong>que</strong> sejam replantadas novemente em agosto. O tratamento ritual na opy’i do mbojape produzido pelas mulheres é designado avaximongarai. Associado ao avaximongarai está o mel (ei), <strong>que</strong> coletado na mata também será tratado cerimonialmente na opy’i: eimongarai. O ei e mbojape são alimentos consumidos conjuntamente na opy’i e ambos desempenham duas funções importantes no ritual, <strong>que</strong> tratarei no próximo capítulo. A cerimônia ainda pode ter como motivo o batismo da erva mate, kaakarai. Apenas um destes motivos é suficiente para acionar outro tema forte desta cerimônia: a descoberta de nomes para as crianças <strong>que</strong> nasceram no último ano e ainda não foram nominadas: nhe’eimongarai. Dessa forma, se entre outros povos da América do Sul a caça proporciona o desencadeamento de atividades rituais, entre os Mbya, estas estão associadas à agricultura, principalmente ao milho (alimento guarani por excelência), e à coleta de mel e de erva mate. Ao contrário de outros povos, aqui a carne não é recomendada durante esse período e o alimento privilegiado é: mbojape, ei e kaaguy’jy (bebida não fermentada a base de milho). Por fim, em ara pyau, os dias são maiores <strong>que</strong> as noites e diz-se Kuaray puku, dia longo; ou jaxy apua’i, noite curta. 43
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