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animais são muito mais que algo somente - Proppi - UFF

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Kaguyjy<br />

Disse <strong>mais</strong> acima <strong>que</strong> do milho pilado e peneirado obtêm-se duas farinhas, a<br />

segunda farinha é <strong>mais</strong> grossa, e dela se faz a canjica, a quirela e uma bebida, com baixo<br />

grau de fermentação chamada kaguy’ji.<br />

As mulheres misturam essa farinha com um pouco de água fria, amassam-na até<br />

<strong>que</strong> se obtenha uma pasta, <strong>que</strong> será mastigada por algumas meninas, e em seguida cuspida<br />

em uma panela, onde se acrescentará <strong>mais</strong> água, devendo deixá-la em descanso, para ser<br />

servido à noite na opy’i.<br />

Quanto à preparação do kaguyjy é possível afirmar <strong>que</strong> qual<strong>que</strong>r mulher e <strong>somente</strong><br />

elas participam. Desde as <strong>mais</strong> velhas na pilagem do milho, até as <strong>mais</strong> jovens, na<br />

mastigação. Apenas as meninas tratadas como kunhã’i, <strong>que</strong> relembro, os seios ainda não<br />

começaram a crescer, estão afastadas destes processo. A<strong>que</strong>las tratadas como ikã va’e<br />

parecem ser as preferidas para a mastigação, mas não é possível afirmar <strong>que</strong> <strong>somente</strong> elas o<br />

façam, me parece <strong>que</strong> excluem do processo de mastigação apenas as mulheres casadas, as<br />

<strong>que</strong> estejam amamentando e as mulheres velhas (vaivi’ï).<br />

O kaguy’jy é reputado uma bebida exclusivamente masculina, ou melhor, produzida<br />

pelas mulheres e destinada aos homens. No entanto não observei – não sei se por<br />

incapacidade ou por<strong>que</strong> realmente não há – entre os Mbya elaborações acerca de o<br />

kaguy’jy ser, como o cauim Yudjá, uma substância suscetível de, no homem, virar sêmem<br />

(Lima, 2005: 321). Sua produção é <strong>muito</strong> pe<strong>que</strong>na, principalmente quando comparada às<br />

cauinagens de outos povos (cf. Lima, 2005 e Viveiros de Castro, 1986) e é <strong>somente</strong> por<br />

ocasião do nimongarai <strong>que</strong> atualmente é preparado.<br />

Há porém alguns aspectos <strong>que</strong> devem ser melhor analisados. O kaguy’jy não é um<br />

produto a ser ofertado por um casal, tal como se passa entre os Yudjá ou entre os Araweté<br />

às de<strong>mais</strong> pessoas, tornando-se portanto condição para inúmeras outras atividades: desde a<br />

puxada de uma canoa a uma caçada coletiva. Entre os Mbya, todas as etapas do processo<br />

de produção, mesmo <strong>que</strong> se façam em separado, convergem para a sua reunião e<br />

distribuição em um único local, a opy’i, e numa única ocasião, o nimongarai. Desta<strong>que</strong>-se<br />

ainda <strong>que</strong> aqui não há donos (as), ou se há sua função não me pareceu evidente. Trazidas<br />

pelas próprias meninas <strong>que</strong> o mastigaram, a panela contendo a bebida é colocada no meio<br />

da opy’i; cada homem, do <strong>mais</strong> velho aos <strong>mais</strong> novos, vai até ela e se serve, tomando de<br />

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