animais são muito mais que algo somente - Proppi - UFF
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O TRABALHO DE CAMPO<br />
Minha chegada à região de Parati, em março de 2008, tinha um duplo propósito:<br />
primeiro era fazer a pesquisa de campo para elaboração desta dissertação de mestrado; o<br />
segundo, e não menos importante era a participação em um grupo técnico, coordenado por<br />
Elizabeth de Paula Pissolato, com o objetivo de realizar estudos necessários à identificação<br />
e delimitação da T.I. Arandu Mirim, localizada no Saco de Mamanguá, fundada por um<br />
dos filhos de seu Miguel: Ro<strong>que</strong> Karai Tataendy e seus afins; e para revisão de limites das<br />
T.I. Araponga e Parati-Mirim.<br />
Morar junto a uma família não foi <strong>somente</strong> uma opção minha embora eu ansiasse<br />
por isso, concomitantemente algumas pessoas abriram, desde o início, as portas de suas<br />
casas. Mesmo <strong>que</strong> isso significasse, nessa fase, um lugar onde eu pudesse fazer as<br />
refeições; e isso não é pouco! Num primeiro momento eu não tinha consciência das<br />
implicações dessa opção; com o passar do tempo comecei a perceber <strong>que</strong> estar em uma<br />
determinada casa poderia implicar um fechamento para as de<strong>mais</strong>.<br />
Por diversas vezes ouvi de algumas pessoas comentários acerca de certo grupo<br />
familiar. Diziam, pois, para <strong>que</strong> eu não fosse até tal casa; lá eles me fariam trabalhar <strong>muito</strong><br />
e eu não poderia fazer meu trabalho, outras vezes insinuavam <strong>que</strong> determinada pessoa era<br />
feiticeira e <strong>que</strong> não era bom <strong>que</strong> eu visitasse sua casa, <strong>algo</strong> poderia acontecer comigo. No<br />
entanto, quando às vezes meio constrangido, eu passava algum tempo sem visitar uma<br />
casa, acontecia de uma criança chegar até mim e dizer <strong>que</strong> seu pai ou sua mãe <strong>que</strong>riam<br />
falar comigo e <strong>que</strong> eu deveria ir até tal casa. Um dos filhos de seu Miguel certa vez me<br />
criticou dizendo <strong>que</strong> eu os es<strong>que</strong>cia, sempre estava com Jango e coisas do tipo. Eu<br />
argumentava <strong>que</strong> sempre ia às outras casas sim, mas como eu morava na casa de Jango era<br />
comum <strong>que</strong> eu passasse <strong>mais</strong> tempo lá. As pessoas concordavam, mas insistiam para <strong>que</strong><br />
eu os visitasse <strong>mais</strong>, alguns perguntavam por <strong>que</strong> eu não morava em outras casas também.<br />
Essas demandas <strong>que</strong> valiam ao nível intra-aldeão, não eram diferentes ao nível<br />
interaldeão. Durante o mês de setembro de 2005 fiz uma visita com as pessoas de Parati-<br />
Mirim, às pessoas de Pinhal, na T.I. Rio das Cobras, no Paraná. Nessa ocasião fui<br />
acometido, na primeira madrugada, por uma forte cólica renal <strong>que</strong> me levou às pressas ao<br />
hospital municipal de Quedas do Iguaçu, onde fi<strong>que</strong>i até amanhecer o dia, acompanhado<br />
por dois rapazes Mbya, um deles, Osvaldo. A forma como reagi aos sintomas da cólica, e o<br />
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