animais são muito mais que algo somente - Proppi - UFF
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<strong>que</strong> muitas vezes tem como corolário a mudança de aldeia; para esse tema da busca de<br />
estados de contentamento veja Pissolato 2007.<br />
Trabalhei com as pessoas em suas roças, plantando milho e mandioca; por<br />
inúmeras vezes íamos à mata para fazer monde e mondepi, dois tipos de armadilhas; nos<br />
dias subse<strong>que</strong>nte percorríamos os mesmos caminhos a examinar o produto de nossos<br />
artefatos; em outras ocasiões nos deslocávamos até a mesma mata à procura de lenha ou<br />
madeira para construção de uma casa. O período da tarde era ocupado às vezes por jogos<br />
de futebol, outras, por visitas às casas. Diversas foram as ocasiões <strong>que</strong> as pessoas pediamme<br />
para <strong>que</strong> as levasse à cidade, onde passávamos a tarde a resolver assuntos dos <strong>mais</strong><br />
diversos tipos, problemas trabalhistas, bancário, empréstimos, compra de mercadorias. Em<br />
outras ocasiões o motivo era buscar as mulheres, principalmente no sábado à noite, <strong>que</strong><br />
vendiam artesanato em Parati. No <strong>mais</strong>, o período da noite era destinado quase sempre às<br />
cerimônias na opy’i, muitas vezes em companhia de Jango e Tereza. Assim, aprendia<br />
fazendo junto e era dessa mesma forma <strong>que</strong> eu apresentava minhas <strong>que</strong>stões, por diversas<br />
vezes discutindo situações as <strong>mais</strong> variadas.<br />
Sabemos <strong>que</strong> o objeto da antropologia é construído a partir do encontro entre a<br />
nossa realidade (enquanto antropólogos) e realidades outras; sabemos também <strong>que</strong><br />
“nossos” problemas não são os mesmos, e nem da mesma natureza, <strong>que</strong> os da<strong>que</strong>las<br />
pessoas com <strong>que</strong>m passamos a conviver para fazer nossas etnografias. Se, optei por viver o<br />
seu dia-a-dia, se discutia com os Mbya as suas idéias foi para tentar compreender <strong>que</strong><br />
mundo se exprimia através delas.<br />
O TEMA<br />
Durante o primeiro ano do curso de mestrado tentei dar ao tema dos sonhos uma<br />
atenção <strong>que</strong> permitisse tratá-lo como objeto de análise etnográfica, principalmente por ser<br />
este um tema <strong>que</strong> apesar de perpassar várias etnografias guarani, ainda é pouco explorado.<br />
No entanto, ambição <strong>muito</strong> além do estágio em <strong>que</strong> me encontrava, tanto da experiência de<br />
campo, quanto do domínio da língua guarani 4 . No entanto, se tratar os sonhos como objeto<br />
de análise etnográfica mostrou-se uma empresa inviável, uma vez <strong>que</strong> não dominando a<br />
língua Mbya, não poderia apreendê-los em sua significação maior: o contexto no qual são<br />
4 Tânia Stolze Lima, enquanto orientadora chamou-me a atenção para a dificuldade acerca deste ponto.<br />
Agradeço-lhe contudo pela liberdade com <strong>que</strong> permitiu-me descobrir os limites desta empreitada.<br />
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