24.12.2014 Views

O Coruja - Unama

O Coruja - Unama

O Coruja - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

— Ah! Fez ele, V. Exa. estava aí<br />

— Sim, o que foi muito bom, porque posso lhe agradecer os versos que o<br />

senhor me fez.<br />

— Pois ouviu<br />

— Ouvi, mas foi sem querer... Que mal ha nisso...<br />

— Seu primo é que não ficará satisfeito.<br />

— Se souber, mas que necessidade tem ele de saber...<br />

— Quer que eu não lhe diga nada<br />

— Decerto, e nem só isso, corno desejo que meu primo não fique na<br />

primeira poesia e me ofereça muitas outras. Vou daqui direitinha dizer isso mesmo a<br />

ele próprio.<br />

E, como para agradecer antecipadamente os versos de Teobaldo, estendeulhe<br />

a mão, que o moço apertou entre as suas, um tanto comovido.<br />

Horas depois, os dois rapazes, já instalados nos seus sobretudos, metiamse<br />

no carro e abandonavam a festa do comendador.<br />

Pela viagem Teobaldo, a despeito do bom humor do companheiro, quase<br />

que não deu palavra; e, ao se pararem-se, Afonso notou que o achava triste.<br />

— Não é nada, respondeu o outro. — Adeus. Até mais ver!<br />

E deixou-se cair para o fundo do cupê, respirando com alívio e murmurando<br />

entredentes:<br />

— Adorável criança!<br />

CAPÍTULO XVIII<br />

Enquanto Teobaldo dançava, ouvia música e conversava em casa do<br />

comendador Rodrigues de Aguiar, o pobre <strong>Coruja</strong> via-se em papos de aranha com<br />

os nervos da Ernestina, cuja crise não fora tão passageira como afiançara aquele.<br />

De mais a mais, o Caetano havia saído logo em seguida ao amo e nessa<br />

noite recolhera-se mais tarde que de costume; teve André por conseguinte de servir<br />

de enfermeiro à rapariga, sem licença de abandoná-la um só instante, porque as<br />

convulsões histéricas e os espasmos se repetiam nela quase que sem intermitência.<br />

Foi uma noite de verdadeira luta para ambos; o rapaz, apesar da riqueza dos<br />

seus músculos, nem sempre lhe podia conter os ímpetos nervosos. A infeliz<br />

escabujava como um possesso; atirava-se fora da cama, rilhando os dentes, trincando<br />

os beiços e a língua, esfrangalhando as roupas, em um estrebuchamento que lançava<br />

por terra todos os objetos ao seu alcance. No fim de algumas horas o Corja sentia o<br />

corpo mais moído do que se o tivessem maçado com uma boa carga de pau.<br />

Além de que, a sua nenhuma convivência com mulheres e o seu natural<br />

acanhamento, mais penosa e critica tornavam para ele aquela situação. Ernestina<br />

cingia-se-lhe ao corpo, peito a peito, enterrando-lhe as unhas na cerviz, mordendolhe<br />

os cabelos, refogando-lhe com ânsia sobre o rosto, como em um supremo<br />

desespero de amor. E André, tonto e ofegante, sentia vertigens quando seus olhos<br />

topavam as trêmulas e agitadas carnes da histérica, completamente desvestidas nas<br />

alucinações do espasmo.<br />

126

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!