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O Coruja - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Mas não me estimas<br />

— Não.<br />

— E, se fores para o colégio, não terás saudades minhas<br />

— Não.<br />

— De quem então sentirás<br />

— Não sei.<br />

— De ninguém<br />

— Sim.<br />

— Pois então é melhor mesmo que te vás embora, e melhor será que nunca<br />

mais me apareças! Calculo que bom ingrato não se está preparando aí! Vai! Vai,<br />

demônio! E que Deus te proteja contra os teus próprios instintos!<br />

Entretanto, à noite, o padre ficou muito admirado, quando, ao entrar no<br />

quarto do órfão que dormia, o viu agitar-se na cama e dizer, abraçando-se aos<br />

travesseiros e chorando: "Mamãe! Minha querida mamãe!"<br />

— São partes, Sr. vigário, são partes deste sonso!... Explicou a criada,<br />

trejeitando com arrelia.<br />

CAPÍTULO II<br />

André seguiu para o colégio num princípio de mês. Veio buscá-lo à casa do<br />

tutor um homem idoso, de cabelos curtos e barbas muito longas, o qual parecia<br />

estar sempre a comer alguma coisa, porque, nem só mexia com os queixos, como<br />

lambia os beiços de vez em quando.<br />

Foram chamá-lo à cama às cinco da manhã. Ele acordou prontamente, e<br />

como já sabia de véspera que tinha de partir, vestiu-se logo com um fato novo que,<br />

para esse dia, o padre lhe mandara armar de uma batina velha. Deram-lhe a sua<br />

tigela de café com leite e o seu pão de milho, o que ele ingeriu em silêncio; e, depois<br />

de ouvir ainda alguns conselhos do tutor, beijou-lhe a mão, recebeu no boné, uma<br />

palmada da criada e saiu de casa, sem voltar, sequer, o rosto para trás.<br />

O das barbas longas havia já tomado conta da pequena bagagem e esperava<br />

por ele, na rua, dentro do trole. André subiu para a almofada e deixou-se levar.<br />

Em caminho o companheiro, para enganar a monotonia da viagem, tentou<br />

chamá-lo à fala:<br />

— Então o amiguinho vai contente para os estudos<br />

— Sim, disse André, sem se dar ao trabalho de olhar para o seu interlocutor.<br />

E este, supondo que o boné do menino, pelo muito enterrado que lhe ficara<br />

nas orelhas com a palmada da criada, fosse a causa dessa descortesia, apressouse<br />

a suspender-lho e acrescentou:<br />

— É a primeira vez que entra para o colégio ou esteve noutro<br />

— É.<br />

— Ah! É a primeira vez<br />

— Sim.<br />

— E morou sempre com o reverendo<br />

— Não.<br />

4

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