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A mesma frase da outra, pensou ele, com um suspiro de tédio.<br />
Ernestina circunvagou os olhos em torno de si, para certificar-se de que<br />
estava a sós, e acrescentou:<br />
— Um dia ofereceste-me a tua proteção, não é verdade Venho reclamá-la...<br />
— Sim, mas é que os tempos se mudaram; já não tenho com que proteger<br />
ninguém, nem a mim mesmo! Estou na espinha!<br />
— Teobaldo! Eu não vim pedir-te esmola!<br />
— Então diga o que veio pedir.<br />
— Vim em busca de amor! Para esquecer-me de ti fiz o que era possível;<br />
nada consegui e cá estou, disposta a afrontar o último sacrifício, contanto que fique<br />
ao teu lado. Amo! E, dizendo isto, tenho dito tudo!<br />
— Sim... Perguntou o rapaz, apertando os olhos. Mas não me fará o<br />
obséquio de dizer que culpa tenho eu disso<br />
— Não sei; amo-te, e nós, as mulheres, quando amamos deveras, somos<br />
capazes de tudo!<br />
— Pois se é capaz de tudo, veja se consegue deixar-me em paz!<br />
— Menos isso!<br />
— Pois, olha, filha, custa-me a confessar, mas acredite que estou em uma<br />
tal situação que não me é possível absolutamente pensar em mulheres. Não<br />
imagina! Acho-me com a vida muito atrapalhada; falta-me tempo para tudo; os dias<br />
fogem-me por entre os dedos como se fossem minutos. Se a senhora é minha<br />
felicidade, não queira ser a primeira a criar-me novos obstáculos. Já tenho tantos!<br />
— Não! Quero apenas saber se amas a uma outra mulher.<br />
— Não! Já lhe disse que não, e acrescento que se não amo, é porque não<br />
posso, é porque não tenho jeito, não tenho tempo, e é porque agora me faltam<br />
recursos para isso! Está satisfeita<br />
— Pois, se não amas a outra, juro-te que hei de, A força de dedicação,<br />
fazer-me amada por ti! Verás!<br />
— Aconselho-lhe que não tente semelhante coisa! Perderia o seu tempo! O<br />
que não falta por aí são rapazes em muito melhores circunstâncias do que eu.<br />
Experimente e verá!<br />
— Mas se só a ti desejo e amo Se ninguém é belo, forte, inteligente como<br />
tu<br />
— Sempre a mesma cantiga! Exclamou Teobaldo. Malditos dotes! Afinal,<br />
preferia ser mais feio do que o <strong>Coruja</strong>!<br />
— Não blasfemes!<br />
— Qual blasfemes, nem qual histórias! Quer saber de uma coisa Errou a<br />
pontaria. Veio buscar amor Pois bem — não há!<br />
E, passeando de um lado para outro furioso:<br />
— Oh! Oh! É demais! Não tenho obrigação nenhuma de aturar isto! Apre!<br />
Ernestina defronte daquele transbordamento de cólera, principiou a soluçar,<br />
dizendo que era a mais desgraçada das mulheres; que amava um homem que a<br />
tratava daquele modo, e, enfim, que — Se Teobaldo não estivesse disposto a ser<br />
mais generoso, ela daria cabo da vida.<br />
— Faça o que entender, minha senhora!<br />
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