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O Coruja - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— E nunca te esquecerás de mim<br />

— Juro-te que nunca.<br />

— Nem mesmo depois de eu ter morrido<br />

— Nem mesmo depois de teres ido para o céu.<br />

— E sabes tu, meu filho, o muito que te quero<br />

— Queres-me tanto quanto eu a ti.<br />

— E sabes quanto sofreria tua mãe se por instantes te esquecesses dela<br />

— Não, porque não sei como possa a gente se esquecer de ti.<br />

— E, quando fores completar os teus estudos na corte, juras que...<br />

Não pode ir adiante. A idéia da separação que já se avizinhava a passos<br />

largos, tolheu-lhe a fala com uma explosão de soluços.<br />

— Então, Santa, então, que é isso Murmurou Teobaldo, erguendo-se e<br />

chamando para sobre o seu peito a cabeça da baronesa — Não chores! Não te<br />

mortifiques!...<br />

Emílio acudiu logo, afastou o filho com um gesto e, tomando o lugar deste,<br />

segredou ao ouvido da esposa:<br />

— Vamos, minha amiga, nada de loucuras!...<br />

— Não posso conformar-me com a idéia de que Teobaldo torna a separar-se<br />

de mim...<br />

— Bem sabes que é indispensável...<br />

— Perdoa-me. Ninguém melhor do que eu aprecia os teus atos e as tuas<br />

intenções. Sei que ele precisa fazer um futuro condigno do seu talento; sei que não<br />

podemos acompanhá-lo de perto, não podemos morar na corte, porque as nossas<br />

condições de fortuna já não...<br />

— Santa! Olha que te podem ouvir!...<br />

— Não me conformo com esta separação! É talvez um pressentimento<br />

infundado; é talvez loucura, como dizes, mas não está em minhas mãos; sou mãe, e<br />

ele é tão digno de ser amado.<br />

— Mas, valha-me Deus! Não é uma separação eterna...<br />

— Não sei! É que uma terrível idéia me preocupa. Afigura-se-me que nunca<br />

mais o tornarei a ver!... Oh! Nem quero pensar nisto!<br />

E os soluços transbordaram-lhe de novo, ainda com mais ímpeto que da<br />

primeira vez.<br />

O barão, sem perder uma linha do seu donaire, passou o braço na cintura da<br />

esposa e, deixando que ela se lhe apoiasse de todo no ombro, arrastou-a<br />

vagarosamente até à sua alcova.<br />

<strong>Coruja</strong>, ignorado a um canto da sala, viu e ouviu tudo isso, e ao ver aquelas<br />

lágrimas de mãe e ao ouvir aquelas palavras de tanto amor e aqueles beijos mais<br />

doces do que as bênçãos do céu, que estranhas amarguras sua alma não carpiu em<br />

silêncio!...<br />

Amargura, sim, que, por menos egoísta, por menos homem que fosse ele,<br />

do fundo do seu coração havia de sair um grito de revolta contra aquela injustiça da<br />

sorte, que para uns dava tudo e para outros nada!<br />

Aquele espetáculo de tamanha felicidade havia fatalmente de amargurá-lo.<br />

Ainda se Teobaldo, possuindo muitos dotes fosse ao menos feito como ele, o<br />

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